Profeta

quarta-feira, 17 de março de 2010

A verdadeira hitória das eleiçâos de 1989


Fernando Collor, Boris Casoy e Lula durante debate eleitoral

O objetivo deste trabalho é entender a eleição de 1989 e a participação da mídia nesta, despertando um olhar crítico nas pessoas para que possam perceber através do debate transmitido pela Rede Globo, a linguagem e os mecanismos de representação utilizados pela mídia televisiva no período eleitoral.

“Refletir sobre as iniciativas e atitudes, complementares ou conflituosas, ensejadas pelos campos da política e das mídias nos momentos eleitorais, sem dúvida, aparece como uma das possibilidades analíticas mais interessantes para iluminar as contemporâneas relações existentes entre estes dois campos sociais.”

A eleição de 1989 foi a primeira direta depois de 29 anos. O pleito foi bastante disputado. Havia 23 candidatos, entre os quais estavam os líderes dos principais partidos políticos, dentre eles: Ulysses Guimarães, Roberto Freire, Paulo Maluf, Leonel Brizola, Mário Covas, Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva. Esta pesquisa estabelece uma análise do debate realizado pela Rede Globo, no segundo turno das eleições entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT e Fernando Collor de Mello (PRN) e como também à influência da mídia como formadora de opinião naquele período.

Logo após a transição política vivida durante o governo José Sarney, o Brasil viveu um período de movimentação política que consolidou a retomada do regime democrático no país. Desta forma, em 1989, após vinte e nove anos, a população brasileira escolheria o novo presidente da República através do voto direto.
Conforme estabelecido na Constituição de 1988, o sistema político do país se organizaria de forma pluripartidária. Com a vigência do sistema pluripartidário, as mais variadas correntes de orientação política se estabeleceram no cenário político da época. Cercado por tantas opções, os eleitores se viam perdidos entre diferentes promessas que solucionariam os problemas do país.
Os setores de direita não conseguiram emplacar um candidato capaz de garantir uma vitória tranqüila no pleito presidencial. Tal enfraquecimento político se deu por conta das frustradas tentativas de sanear a economia. Dominado por políticos de direita, o governo José Sarney (1985 – 1990) foi palco de constantes arrochos salariais e, principalmente, de grandes surtos inflacionários.
Já os partidos de esquerda viriam a lançar duas influentes figuras políticas que poderiam polarizar a disputa daquela eleição. De um lado, Luís Inácio Lula da Silva, representando o Partido dos Trabalhadores e com base política assentada entre os trabalhadores e as principais lideranças sindicais do país. De outro, Leonel Brizola, filiado ao Partido Democrático Trabalhista, e apoiado em sua extensa vida política influenciada pela política trabalhista da Era Vargas (1930 – 1954).

Campanha de Silvio Santos:


Buscando reverter o quadro desfavorável, a direita tentou emplacar a candidatura do empresário das telecomunicações Sílvio Santos, logo impugnada pelo Superior Tribunal Eleitoral. Temendo uma vitória dos setores de esquerda e sem nenhum concorrente de peso, os partidos de direita passaram a apoiar um jovem político alagoano chamado Fernando Collor de Melo. Com boa aparência, um discurso carismático e o apoio financeiro do empresariado brasileiro, Collor se transformou na grande aposta da direita.
Atraindo apoio de diferentes setores da sociedade, Collor prometia modernizar a economia promovendo políticas de cunho neoliberal e a abertura da participação estrangeira na economia nacional. Ao mesmo tempo, fazia discursos de orientação religiosa, se auto-proclamava um “caçador de marajás” e alertava sobre os perigos de um possível governo de esquerda.
No primeiro turno, a apuração das urnas deixou a decisão para um segundo pleito a ser disputado ente Collor e Lula. Mesmo tendo um significativo número de militantes durante seus comícios, a inabilidade do candidato do PT diante as câmeras acabou enfraquecendo sua campanha. De outro lado, Collor utilizou com eficácia o vantajoso espaço nas mídias a ele cedido. Com a apuração final, tais diferenças de proposta e, principalmente, comportamento garantiram a vitória de Fernando Collor de Melo.

Os historiadores Antonio Albino Canelas Rubim e Leandro Colling sobre as eleições de 1989, dizem que: “(...) o horário eleitoral gratuito tornou-se a vedete e o eixo da campanha, associado às pesquisas, ao marketing e aos debates eleitorais.” . A televisão neste momento estava presente na vida do brasileiro e grande parte da população tomava conhecimento dos acontecimentos políticos através desta. Cabe ressaltar que o número de eleitores nesta eleição teve um aumento significativo, passando de 15 milhões para aproximadamente 82 milhões, e a influência da televisão sobre os eleitores faria uma grande diferença.
Entre o primeiro e o segundo turno da eleição, houve dois debates entre os candidatos Collor e Lula. O primeiro foi realizado nos estúdios da TV Manchete, no Rio de Janeiro, em 3 de dezembro. O segundo, no dia 14, foi nos estúdios da TV Bandeirantes, em São Paulo. Os dois debates foram transmitidos na íntegra das 21h30 às 24h, por um pool formado pelas quatro principais emissoras de televisão do país: Globo, Bandeirantes, Manchete e SBT com quatro mediadores - Boris Casoy (SBT), Marília Gabriela (Bandeirantes), Eliakim Araújo (Manchete) e Alexandre Garcia (Globo) - se revezando a cada bloco, e quatro jornalistas de cada emissora de televisão participando de cada bloco interrogando os candidatos sobre cada um dos quatro temas propostos - Luis Fernando Emadiato (SBT), Fernando Mitre (Bandeirantes), Villas Bôas Corrêa (Manchete) e Joelmir Beting (Globo).


Veja o video abaixo:



Nesse sentido, utilizaremos o segundo e último debate, entre Fernando Collor de Mello e Luís Inácio Lula da Silva, apresentado pela Rede Globo durante o Jornal Nacional no dia 15 de dezembro de 1989, para mostrar como a edição feita favoreceu o candidato Fernando Collor. O vídeo , com a duração de dez minutos, pretende buscar um entendimento melhor com relação à mídia e sua influência no resultado da eleição, através da seleção das falas dos candidatos e também de pesquisas que apontavam sempre o candidato Collor como superior. Vale ressaltar que os candidatos chegaram ao segundo turno devido suas performances nos horários eleitorais gratuitos.
O candidato Collor usou de um “eficiente marketing político com o slogan do ‘caçador de Marajás’, pelas acusações de Collor de que Lula representaria uma ameaça aos direitos de propriedade, além de associar o programa de governo do candidato do PT ao estatismo, em um momento de crise no socialismo do Leste europeu.” . Durante o debate apresentado no Jornal Nacional, Collor questiona Lula sobre as acusações de corrupção que estavam sendo feitas ao seu vice. Ao responder, Lula se atrapalha dando a entender que o que mais importava naquele momento era somente sua candidatura, e que investigar a acusação de corrupção era segundo plano. Na edição feita pela Rede Globo, foram apresentadas as perguntas e respostas que deixavam Collor em vantagem, atribuindo ao candidato melhor posicionamento em suas respostas.

Globo Manipula eleiçâo




Sobre o posicionamento da Rede Globo, Roberto Marinho, dono da emissora disse: “Sim, nós promovemos a eleição do Collor e eu tinha os melhores motivos para um grande entusiasmo e uma grande esperança de que ele faria um governo extraordinário” . No próprio site da emissora apresenta uma nota sobre essa “polêmica” onde a emissora admite ter errado em ter editado o debate para o Jornal Nacional, sendo assim, não iria mais editar debates, apenas apresentá-los na íntegra. Porém, ao contrário de depoimento de Roberto Marinho, ela não admite seu poder de manipulação sobre tal debate e que apenas selecionou os “melhores momentos” do debate .

“A potencialização do campo das mídias manifesta-se evidente em inúmeros acontecimentos que conformam a eleição de 1989: o caráter de eleição ‘solteira’; a expectativa de um experimento inédito de eleição presidencial em uma sociedade ambientada pela mídia; a legislação eleitoral que permite sem restrições a utilização das ‘gramáticas’ midiáticas, desenvolvidas no país em um patamar técnico altamente qualificado; a competente elaboração estratégico-plástica das campanhas, em especial, a de Lula e de Collor e, por fim, as interferências político-eleitorais explícitas, inclusive comprometedoras, de parte da mídia em episódios como o seqüestro de Abílio Diniz e a edição realizada pelo Jornal Nacional do último debate entre Collor e Lula.”
Podemos perceber com esta pesquisa que a eleição presidencial de 1989 além de marcar a primeira eleição direta depois do fim da ditadura, também marcou o crescimento e participação mais ativas da mídia nas campanhas. Pudemos entender também como foi a participação da Rede Globo e a influência que ela teve no resultado das eleições, onde o candidato apoiado pela emissora, Fernando Collor de Mello, venceu as eleições presidenciais.

Referências bibliográficas:


NASCIMENTO, Luiz Miguel do. Introdução ao debate sobre a eleição presidencial brasileira de 1989. In: História: Questões & Debates, Curitiba, n. 44. Editora: UFPR, 2006.

RUBIM, Antonio Albino Canelas; COLLING, Leandro. Mídia e eleições presidenciais no Brasil pós-ditadura.
RUBIM, Antonio Albino Canelas. Eleições presidenciais em 2002 no Brasil. São Paulo: Hacker, 2004.



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