A mudança para um novo paradigma energético
A curva de Hubbert baseia-se no facto de o processo que conduz ao esgotamento de um recurso finito ser constituído por três etapas: 1) A produção principia no zero; 2) O fluxo de produção ascende até alcançar um pico, ou seja, um máximo que já não pode ser ultrapassado; 3) Após o pico o fluxo de produção declina, assintoticamente, até o esgotamento do recurso. No caso do petróleo, se a produção (em milhões de barris/dia) for posta em ordenadas e o tempo (em anos) em abcissas, pode-se obter um retrato claro da situação de um país, de uma província petroleira ou até ao nível mundial. A curva mostra as variações da produção anual e a área abaixo da curva a produção acumulada.
No caso do petróleo a curva de Hubbert tem um formato de sino (ajustamento logístico), tendo início por volta de 1850 (ver gráfico). A nível mundial o seu pico verificar-se-á entre 2003 e 2006. Isto significa que dentro em breve a espécie humana começará a gastar a “segunda metade” do seu stock de petróleo, das suas reservas provadas+possíveis. Este facto — a morte anunciada de um bem não renovável — tem consequências profundas e pesadas para toda a humanidade. Se o modo de produção capitalista fosse racional, a humanidade teria tempo suficiente — pelo menos uns 50 anos — para preparar uma transição suave para um mundo sem petróleo. Mas seria ilusório esperar que isto aconteça enquanto o mundo for governado pelo capital monopolista de Estado.
Por outro lado, verifica-se que a casualidade geológica fez com que as províncias petroleiras cujo pico de Hubbert ainda está afastado no tempo fossem aquelas de países da OPEP. Se se observar o gráfico abaixo verifica-se que a partir de 2007 passará a predominar o petróleo fornecido pela OPEP em relação aos não OPEP. Isto será uma grande alteração na correlação de forças e uma alteração favorável à OPEP. Pode-se depreender que, em consequência, os preços do barril — absurdamente baixos neste momento — tenderão a elevar-se em termos reais.
Ora, do que foi dito acima depreende-se que os preços actuais do petróleo estão muito longe de serem eficientes. Não se trata de eficiência no sentido neoclássico, do óptimo de Pareto. Fala-se aqui de eficiência num sentido muito mais fundamental: preços que possibilitem à humanidade efectuar uma transição razoavelmente suave e harmoniosa para um mundo pós-petróleo. Tal transição é impossível com os preços actuais, demasiado baixos. Uma alta gradual dos preços reais do petróleo é não só possível como necessária e até desejável.
Na questão do petróleo é uma visão míope adoptar uma óptica curto-prazista e alegrar-se com preços baixos. Tal visão conduz a um gigantesco desperdício deste recurso finito à escala mundial (a começar e sobretudo nos EUA). Impõe-se assim um novo paradigma energético. Durante milénios houve o da lenha, a partir do século XIX foi o do carvão, o século XX o do petróleo. No século XXI será preciso alcançar um novo paradigma
A utilização das energias renováveis está neste momento a ser impedida pelos baixos preços do petróleo. No caso dos transportes (em que as renováveis têm mais dificuldade de adopção), é difícil introduzir novos combustíveis com um preço do barril de petróleo tão baixo como US$ 20. Em termos conjunturais, a recessão económica mundial que agora se inicia facilita (mas não determina) a manutenção de um preço tão irrisório.
O pico de Hubbert não será o fim do mundo. Ao nível técnico existem alternativas para sobreviver num mundo em que o petróleo ter-se-á tornado num produto tão raro que terá de ser vendido em frasquinhos nas drogarias. As energias renováveis só não penetram no mercado devido ao baixíssimo preço do petróleo. Mas já é perfeitamente possível produzir energia eléctrica a partir de painéis fotovoltaicos, de centrais eólicas, da geotermia e de muitas outros modos — e também pode haver meios de produzi-la em centrais nucleares intrinsecamente seguras. No campo dos transportes, as frotas de veículos agora existentes poderiam passar de modo fácil e rapido para o gás natural (com vantagens para o aquecimento global pois melhoraria o ratio carbono/hidrogénio das emissões).
Como o pico de Hubbert do gás natural ainda está longínquo (só será atingido por volta de 2030), a adopção do gás natural nos transportes (utilizando os actuais motores térmicos clássicos) é uma boa solução transitória para este interregno. A utilização do gás natural nos transportes no próximo quarto de século daria tempo suficiente para a humanidade preparar-se para o meio energético definitivo: o hidrogénio. Com a vantagem de que as infraestruturas que entretanto se criassem para o abastecimento de veículos a gás natural poderiam, no futuro, servir também para os veículos a hidrogénio. Esta afirmação é verdadeira tanto no caso da produção de hidrogénio no próprio veículo ( on board , por meio de pilhas de combustível que vão buscar ao metano os seus quatro átomos de hidrogénio) como da produção off board (utilização de directa de hidrogénio puro) pois as actuais redes de gás natural também poderiam servir para o hidrogénio (as pressões de serviços são semelhantes).
Como se vê, o problema não está nas tecnologias. As alternativas tecnológicas existem. O problema está neste modo de produção e no consequente modo de distribuição da riqueza produzida. Entrámos na fase senil do capitalismo, quando a concentração e a centralização do capital produzem monstruosidades por todo o planeta, provocam guerras, corridas armamentistas desesperadas, fascistização de governos ditos democráticos (nos EUA já há tribunais militares secretos e, tal como na Idade Média, discute-se ali a legalização da tortura), depauperação de povos em todos os continentes e crises económicas insanáveis. Do bojo destas crises podem nascer situações revolucionárias que darão lugar a um novo mundo. A resolução dos problemas energéticos da humanidade também passa por aí.
O Pico de Hubbert significa o quê mesmo?
A história do petróleo começa nas colinas ocidentais da Pensilvânia no território dos Estados Unidos, no ano de 1859. A partir daí, descoberto, o petróleo passa a ser usado como matéria prima da máquina industrial da economia global. Em outras palavras, a partir de 1859 é dada a largada da ruína da humanidade e da destruição do planeta terra.
"Se um quadro (retrato) valer mil palavras; então, o cartaz (pôster) da história da idade do petróleo vale um milhão de palavras, porque as pessoas não só podem ver o pico de produção de petróleo de Hubbert em muitos países e regiões, mas também ler os fatos motivados pelo declínio do pico global de produção de petróleo, ambos inevitáveis e bastante provavelmente iminentes?. - U.S. Congressman R. Bartlett (Maryland (Republican)
As principais características desse quadro (cartaz, pôster ou retrato) são indicadas pelas projeções de produção mundial futura de petróleo, baseadas no Modelo de Depleção (declínio da curva de produção de petróleo) de Colin Campbell da ?Association for the Study of Peak Oil & Gás?, ano por ano, desde 1859 até 2050. Anotações históricas como também dados detalhados de produção de petróleo, comércio e reservas fazem deste quadro uma ferramenta versátil por apresentar as realidades e implicações da produção global de petróleo e seu pico de Hubber e declínio iminentes.
A disponibilidade de petróleo abundante e barato sempre foi o pilar básico das chamadas sociedades industrializadas. Por tanto, ?Não se podem compreender os acontecimentos atuais se esquecerem por um só instante que a expansão da chamada sociedade de consumo repousa sobre a abundância de energia e de matérias primas baratas, quer dizer, sobre a ruína da maior parte da humanidade?. Prólogo de Jean Pierre Vigier ? Petróleo: III guerra mundial (1974).
Todos os avanços dos dois últimos séculos sejam de natureza comercial, política ou social, estão conectados com o aumento massivo da energia gerada por queima de combustíveis fósseis. O Petróleo é a matéria prima para mais de 3.000 produtos de uso cotidiano. É base de 70% da economia e 90% do transporte. Por tanto, o petróleo é uma matéria prima insubstituível. O acesso privilegiado a esta matéria prima nobre, foi, é e será a causa de conflitos e guerras e o ponto chave da política internacional agressiva e hostil do imperialismo anglo-estadunidense (Inglaterra e Estados Unidos).
A humanidade ainda nem superou o trauma do holocausto nuclear praticado pelos Estados Unidos: Hiroshima, 6 de agosto de 1945, 157.071 mortos. Três dias depois, Nagasaki, 9 de agosto de 1945, 40.000 mortos. Nem tampouco das duas guerras mundiais. A Primeira (1914 ? 1918), custo: 10 milhões de mortos, 20 milhões de feridos, 290 bilhões de dólares. A segunda (1939 ? 1945), custo: 55 milhões de mortos, 35 milhões de feridos, 2 trilhões e 300 bilhões de dólares. E, de novo, os Estados Unidos pratica ataques genocídios no Iraque, Afeganistão e Haiti. A invasão do Haiti tem a colaboração efetiva do governo Lula, do Brasil. E, ainda mais, a invasão do Iran depende somente de uma ordem do Bush.
O mundo consome só em petróleo um jato de dois metros de diâmetros a 140 Km/h; durante 24 horas por dia. Nem os grandes países consumidores (Estados Unidos, União Européia, Japão, China...), nem as grandes companhias privadas têm reservas nem produção suficientes para impedir uma crescente dependência energética.
A cotação relativamente baixa do preço do petróleo que contribuía para aumentar o nível de importações e fazer cair a produção interna dos Estados Unidos, retardando o esgotamento rápido de suas reservas petrolíferas é coisa do passado. Os Estados Unidos hoje consome o equivalente a mais de 20 milhões de barris de petróleo e sua produção interna não alcança 8 milhões de barris de petróleo diário.
A produção de petróleo dos Estados Unidos atingiu o Pico de Hubber em 1971. As reservas totais cubadas dos Estados Unidos chegam a 200 bilhões de barris. Lembremos que o ano atual é 2007. Já se foram 36 anos, desde o Pico de Hubbert dos Estados Unidos. O Pico de Produção de Petróleo do Oriente Médio foi alcançado em 1974. De lá para cá se soma 33 anos. As reservas cubadas do Oriente Médio totalizam 680 bilhões de barris de petróleo. Recordemos que a chegada da produção ao Pico de Hubbert significa que metade da reserva total pré-existente de petróleo cubada já foi consumida.
O pico de descoberta de petróleo dos Estados Unidos ocorreu em 1930. Já se passaram 77 anos. E do pico de produção para os dias atuais, 36 anos. A genialidade de Hubbert levou-o à previsão de que a distancia temporal do Pico de Descoberta até o Pico de Produção de Petróleo dos Estados Unidos seria de 41 anos. Hubbert acertou na mosca. A partir daí, o pico de produção de petróleo foi batizado por Pico de Hubbert.
O pico de descobertas mundial de petróleo foi atingido em 1965 e o de produção (Pico de Hubbert), em 2005; por tanto, 40 anos é a distancia temporal entre os dois picos (de descoberta e de produção) Os 10% das reservas de petróleo que sobraram para ainda serem descobertas localizam-se em águas profundas, 69 bilhões de barris. Segundo a ?Association for the Study of Peak Oil and Gas?, a bacia de campos atinge o Pico de Hubbert no ano 2011.