Os guias de sobrevivência fornecem desde as dicas mais comuns, de obter e estocar água e comida, até as mais inusitadas, como não ir ao supermercado e usar um cinto para segurar as calças depois de perder peso. Para Nelson Aguilar, autor de três guias de sobrevivência - contra armas nucleares, ataque cibernético e, claro, zumbis-, a busca pela sobrevivência começa com a obtenção ou estoque de alimento, pois ele ficaria escasso rapidamente. O próximo passo seria encontrar abrigo e armas. "Não há vantagem em ter água e comida se você está congelando no meio selvagem. As armas seriam úteis para dissuadir qualquer perigo (animais ou pessoas)", esclarece.
Uma pequena investigação revela o que leva alguém a criar guias de sobrevivência. "Oi. Eu sou Traci. Este site começou como uma maneira de manter e organizar minha própria pesquisa sobre habilidades de sobrevivência a desastres", escreve a americana Traci Knoppe na descrição de seu Guia de Sobrevivência ao Apocalipse, o qual também possui versão impressa. "Se você ligar a TV, ler o jornal ou ouvir as notícias no rádio, parece que há sempre algum desastre acontecendo no mundo todo dia. Para mim, parece que eles estão acontecendo mais seguidamente. Não entro em pânico nem sou extremista, mas tenho uma família a considerar, e um pouco de preparação é inteligente". Uma das dicas mais recorrentes de Traci é a manutenção de uma mochila preparada para o pior, que contenha: tabletes purificadores de água, isqueiros, fósforos, roupas, pratos, faca, lanterna, pilhas recarregáveis (todos os tamanhos), mapa, casaco, vitaminas, aspirinas, antibióticos, sabonete, entre outros.
Em outro extremo, alguns guias de sobrevivência não utilizam o humor de zumbis nem parecem iniciativas pessoais como a de Traci. "Sua famíla não está protegida contra um ataque terrorista, furacão, tornado ou uma inundação", anuncia, em fonte vermelha, o site "Survive Anything" ("Sobreviva a tudo", em português). "Eles sobreviverão? Se o governo cair amanhã, você poderá protegê-los e alimentá-los? Eles morrerão porque vocênão está preparado?".
De graça, resta a precaução. Para Dana Martins, autora de um manual de sobrevivência contra zumbis no blog Conversa Cult, do qual é fundadora, o mais importante é planejar um plano de ação. "Já cansei de ver gente falando que mataria zumbi tacando fogo", ironiza. E foi pensando nisso que ela criou o guia - para dar dicas úteis em vez de "você precisa saber correr", como ela mesmo relata em seu texto.
Quem também compartilha dessa regra é o pessoal do Esquadrão Zumbi, que se dedica a orientar na preparação para desastres. "A chave para sobreviver a qualquer desastre é educar-se e ter um plano", reforça Nickels. O grupo originou-se de uma discussão após um filme, sobre como eles sobreviveriam melhor do que os personagens da história. Desde então, o esquadrão amealhou mais de 5 mil membros de carteirinha e 50 mil membros online espalhados pelo mundo. "O tema sobrevivência zumbi fornece um contexto divertido para aprender habilidades básicas de sobrevivência, sem os estigmas ligados a quem é chamado de 'survivalist' (termo utilizado para descrever pessoas que dedicam sua vida a planejar a sobrevivência na hora do apocalipse)", informa.
Caso alguém sobreviva aos zumbis, ao tsunami ou à colisão do asteroide, há sites que vão além do apocalipse. Doom Survival Guide ("Guia de sobrevivência em meio à destruição") se descreve como um manual de sobrevivência em um mundo pós-apocalíptico. A página se apresenta imediatamente como fonte de informações para quem aceita que o planeta acabará, mas não tenta adivinhar como isso vai acontecer. "Se você está aqui, é porque provavelmente tem suas próprias ideias", diz. Entre as possibilidades ventiladas, encontram-se mudança climática, guerra mundial, asteroides, colapso econômico e tsunami galáctico ("seja lá o que for isso"). Para se precaver, o leitor pode fazer o download do guia e imprimi-lo. A leitura abrange o uso medicinal de plantas, dicas para a criação de coelhos, o melhor tratamento para lesões nos joelhos, técnicas de fuga em caso de perseguição e maneiras de construir um abrigo. Ficou em dúvida de como planejar um jardim pós-apocalíptico? Entre no chat que o site disponibiliza.
Mesmo entre os autores dos guias de sobrevivência, não há consenso sobre as causas do fim do mundo. "Pessoalmente, eu não acredito que o mundo vai acabar em 21 de dezembro de 2012", avisa Aguilar. "Nós tivemos esses mesmos sustos antes. As pessoas adoram criar uma história a partir do nada e criar medo na comunidade". Da mesma forma, Jacobs também não crê nas teorias relacionadas ao calendário maia. No entanto, se tivesse que dar um palpite, ele acredita que uma pandemia global de algum tipo de supergripe, como H1N1 ou alguma mutação do vírus, seria a mais provável.