Enquanto o mundo estava em crise, o Brasil Cresceu e o Nordeste avançou mais.
A região Nordeste do Brasil saiu vitoriosa da crise econômica e cresceu 2,2% no primeiro semestre.A estimativa surpreende em um Brasil que encolheu 1,46% no período. O Produto Interno Bruto (PIB) de Pernambuco registrou alta de 3,8%; o do Ceará, 2,8%; e o da Bahia, 1,6%. Juntos eles respondem por dois terços da riqueza local.
Segundo Datamétrica Consultoria, que radiografou o bom momento da região a pedido do Estado, só em uma hipótese teria havido um crescimento nulo: se os outros seis Estados, que não calculam previsões de PIBs, tivessem sofrido uma retração três vezes maior que a da brasileira. Mas outros indicadores de suas economias apontam na direção oposta.
A Datamétrica, consultoria de Pernambuco especializada na economia nordestina, analisou os PIBs e variáveis de impostos estaduais e federais, comércio, produção industrial e movimentação bancária. Naquelas em que o Brasil cresceu, o Nordeste avançou mais.
Nas outras em que houve retração, os nordestinos tiveram quedas menores. E são esses mesmos indicadores que mostram que Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão não fizeram feio. A arrecadação do ICMS desse grupo subiu 7,3% nos últimos sete meses, enquanto no Nordeste houve um acréscimo de 3,87% e no Brasil, de apenas 1,66%. No mesmo período, o comércio deles avançou 5,4%, do Nordeste, 5,6%, e em todo o País, 4,6%.
“De certa maneira, o Nordeste bancou a política anticrise de outras regiões brasileiras, já que a maioria das empresas dos setores em que houve redução do IPI fica no Sudeste e Sul”, analisa o presidente da Datamétrica, Alexandre Rands Barros.
Três fatores foram vitais para fazer com que a região crescesse mais que o Brasil na crise, explica Rands, professor de economia da Universidade Federal de Pernambuco. Para começar, o Nordeste exporta pouco. O que chamamos “exportação” é a venda de seus produtos para Sul e Sudeste. Como o consumo das famílias no Brasil foi o salvador geral da pátria, as empresas “exportadoras” se saíram bem. Em segundo lugar, a crise gerou incertezas e perturbou o humor das indústrias, sobretudo as do setor de bens de capital. Mas como estas se concentram no eixo São Paulo-Rio-Minas, o impacto no Nordeste foi menor.
Essas duas realidades não afetaram a confiança do nordestino, o terceiro fator em favor da região. O consumidor continuou comprando e se endividando para comprar mais. Confiaram na promessa de marolinha do presidente conterrâneo, Luiz Inácio Lula da Silva. “O efeito político foi grande. Os índices de aprovação de Lula caíram menos porque o Nordeste sofreu menos com a crise”, interpreta Rands.
O PIB nordestino contribui com uma fatia ainda inferior a 15% do PIB nacional. Porém crescer mais que o Brasil em meio à crise diz respeito a um terço da população brasileira que vive no Nordeste. Desde 2003, início do governo Lula, a região tem registrado PIBs superiores ao do País. A exceção foi 2007, o ano de crescimento recorde em que houve problemas localizados em algumas indústrias nordestinas. Mas a diferença foi pequena: 5,7% do Brasil ante 5,1% do Nordeste.
“Em setembro do ano passado, sem ser profeta, eu já dava declarações de que a crise mundial traria desdobramentos positivos para o Nordeste”, lembra Cid Gomes (PSB), governador do Ceará. A primeira seria consequência da desvalorização do dólar frente ao real. O Brasil se tornou barato para os estrangeiros e o turismo saiu ganhando. Bahia e Ceará vêm se alternando nas primeiras posições de maiores vendedores de pacotes turísticos do País. Os governadores do Nordeste aproveitaram também o momento para investir em obras públicas e desoneraram setores industriais, sobretudo os de itens de consumo popular e os que faziam concorrência com outros Estados.
O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), afirma que nem tudo foram flores e tem segurado a economia “na unha”. O Estado é o mais industrializado da região e setores como o de petroquímico, um dos carro-chefe da produção local, foram nocauteados pela crise. O fôlego foi possível, explica Wagner, pelos recursos de programas sociais estaduais e federais que não cessaram. “O nosso consumidor não está com a síndrome de guerra. Se ele vê que dá para consumir, vai para cima”, diz. Como houve mais impacto negativo da crise na Bahia, o governador baiano crê que a retomada neste segundo semestre será proporcionalmente maior. A indústria de celulose já retomou o volume de produção pré-crise, mas o faturamento continua inferior por causa do dólar barato e do preço mundial da mercadoria.
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Quem visita o Nordeste para além das capitais litorâneas percebe que o avanço das economias vem ocorrendo também no interior. O comércio dos pequenos municípios adquiriu outro status. Com dinheiro no bolso, o consumidor passou a atrair grandes empresas. Na década de 90 elas podiam se dar ao luxo de concentrar as atividades no Sul e Sudeste, mas agora elas correm atrás dos nordestinos. Em 2003, pouco mais da metade das famílias pobres possuía televisão a cores, hoje 88,7% delas têm. Telefone celular: saltou de 10,5% para 55%. Indústrias alimentícias que antes enviavam as mercadorias para as regiões Norte e Nordeste vêm montando bases locais e acabam comprando matéria-prima da própria região.
O governador Cid Gomes prefere associar uma imagem que retrata bem a atual realidade nordestina. Na terça-feira, despachando de Pedra Branca em seu governo itinerante, ele notou intensa atividade no comércio da cidade de 40 mil habitantes. Imaginou que era a feira, uma rotina secular dos municípios interioranos, quando a população se reúne numa praça para ofertar feijão de corda, carne de sol e macaxeira e levar para casa roupas, panelas e a comida que falta. “A feira de Pedra Branca era de sábado, mas me disseram que agora todo dia é dia de feira”, comemora.
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