Profeta

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Bhagavad Gita – A Sublime Canção

...Neste capitulo Krishna a mostra a Arjuna que a auto-realização consiste em “trabalhar intensamente, e renunciar a cada momento aos frutos do seu trabalho". Não e pelo falso-agir (por amor ao ego) que o homem se liberta e redime, nem pelo não-agir - mas unicamente por meio do reto-agir, de uma intensa dinâmica e jubilosa atividade, realizada por amor ao seu Eu divino.

Esse Atman, embora seja essencialmente Brahman, necessita contudo de evolução, porque o Atman no homem é um "Deus potencial", um Deus evolvivel, realizável, e não plenamente realizado. Atman é o Deus imanente, e não simplesmente a Divindade transcendente, que não e susceptível de aperfeiçoamento. 0 homem deve despertar em si o seu Deus dormente. É esta a tarefa suprema do homem, aqui na terra e em todos os estágios da sua evolução extraterrestre.

Fala Arjuna:

1 - Enalteceste, Senhor, a abstenção dos atos, e recomendaste, não obstante, a atividade. Dize-me agora, em definitivo, qual é o caminho melhor para atingir a meta mais alta.

Fala Krishna:

2 - Bom é agir e bom é abster-se da atividade; tanto isto como aquilo conduz à meta supre­ma. Mas, para o principiante, melhor é agir corretamente.

3 - O verdadeiro renunciante é somente aquele que nada deseja e nada recusa, inatingido pelos opostos, tanto no seu agir como no seu desistir, não afetado nem por esperança nem por medo.

4 - Os ignorantes tecem teorias sobre o agir e o saber, como se se tratasse de duas coisas diferentes; mas os sábios estão convencidos de que quem faz isto não deixa de colher os frutos daquilo.

5 - O reino da quietude que os sábios conquistam pela meditação é também conquistado pelos que praticam ações; sábio é aquele que compreende que essas duas coisas - a intuição mística e a ação prática - são uma só em sua essência.

6 - Difícil tarefa é, herói, alcançar estado de renúncia sem ação e sem que o espírito da fé penetre o coração. 0 sábio que, pela força da verdade, renuncia a si mesmo integra-se em Brahman.

7 - Esse é puro de coração, forte no bem e senhor de todos os seus sentidos; a sua vida está a serviço da vida de todos, e ele realiza todas as ações sem ser escravizado por nenhuma delas.

8 - Porquanto reconhece que não e ele que age, quando vê, ouve e sente.

9 - Pois, quando vê ou ouve, cheira ou come, dorme ou respira, quando abre ou fecha os olhos, quando dá ou recebe ou exerce outro ato sensório qualquer - não são senão os seus sentidos que operam com esses objetos externos.

10 - Quem tudo faz sem apego ao resultado dos seus atos faz tudo no espírito de Deus, e, como a flor de lótus, incontaminada pelo lago em que vive, permanece isento do mal.

11 - Com todas as forças do espírito, da mente, do coração e do corpo luta o yogui pela purificação de sua alma, sem nada buscar para si mesmo em tudo que faz.

12 - Quem a tudo renuncia, jubiloso, alcança, a agora, a mais alta paz do espirito; mas quem espera vantagem das suas obras e escravi­zado por seus desejos.

13 - O sábio que, em corpo terrestre, se libertou do egoismo, habita, mesmo quando age, no céu da sua paz, na "cidade dos nove por­tais" ; não tem desejos, nem induz outros a terem desejos.

14 - O Senhor do Universo não crea ação nem o impulso de agir nem o desejo dos frutos da atividade - tudo isto nasce da natureza fini­ta do individuo.

15 O Senhor do Universo não toma sobre si as culpas dos homens, porque está acima de todas as ações, perfeito em si mesmo. Erram os homens por sua própria ignorância, por­que a luz da verdade está envolta nas trevas da ilusão.

16 - Mas, quando as trevas cedem à luz, amanhe­ce o dia, e, assim como o sol em pleno esplen­dor, revela-se o Ser Supremo.

17 - Quem se integra no Ser Supremo e nele re­pousa está livre da incerteza e trilha caminho luminoso, do qual não há retorno, porque a luz da verdade o libertou do mal.

18 - Quem vive na luz da verdade vê Deus em to­dos os seres - no brâmane e no cão, no elefante e na vaca, e até no desprezado pária.

19 - Os que estão firmes na luz da verdade venceram o mundo, já aqui na terra, pela fé na harmonia universal; porquanto Brahman transcende todas ás condições da dualidade, habitando na suprema unidade - quem o conhece repousa em Brahman.

20 - Quem vive firmemente consolidado na cons­ciência de Brahman não sucumbe à alegria, na prosperidade, nem à frustração, na adversidade - mas remonta à claridade sem nu­vens e se integra na Divindade.

21 - Quem preserva a sua alma livre de todas as coisas que vêm de fora realiza o seu verdadeiro Eu, atinge a paz verdadeira, a beatitude do seu verdadeiro ser.

22 - As alegrias que brotam do mundo dos senti­dos encerram germes de futuras tristezas; vêm e vão; por isto, o príncipe, não é nelas que o sábio busca a sua felicidade.

23 - Feliz é aquele que, durante a vida terrestre, consegue libertar-se dos impulsos que geram paixão e ódio, estabelecendo-se firmemente no espírito da união com Deus.

24 - É ele, na verdade, um santo, que encontra o céu dentro de si mesmo; a sua vida e uma com Brahman e abre-se-lhe a porta do nirvana.

25 - É assim que os rishis, livres de incertezas e senhores de si mesmos, já aqui na ter­ra, entram no nirvana da Divindade, vivendo a vida de todos os seres.

26 - Todos os que, libertos de ódio e paixões, fortes na humildade e iluminados pela fé, superaram o seu ego humano e realizaram em si o Eu divino, todos eles se aproximam da verdadeira paz em Deus.

27 - O yogui que habita na luz, que se abstém do contato com o mundo dos sentidos, cujo olho espiritual se abriu e cuja respiração espiritual se sintonizou com a respiração corporal.

28 - Ele que, repleto da virtude de Deus, governa o coração e a mente, e, sem egoísmo, anseia pela redenção - esse se libertou de si mesmo e vive na paz eterna, aqui e por toda a parte.

29 - Ele sabe que eu sou a Essência em todas as Existências; eu, o Imanifesto em todos os Manifestos; eu, a suprema e imutável Realidade em todos os mundos em incessante mutação; eu, refúgio e proteção de todas as criaturas. Quem isto sabe encontrou a paz.

Bhagavad Gitã: a Mensagem do Mestre FRANCISCO VALDOMIRO LORENZ





Não!Este texto não é sobre religião!Este texto é uma tentativa e apenas uma simples tentativa de mostrar o quanto Krishna e Cristo tinham em comum.Falo de idéias, de pensamentos que nortearam milhares de pessoas e continuam influenciando a humanidade ainda.
Tanto o Novo Testamento quanto o Bhagavad Gita (A Sublime Canção), ou em outras palavras a mensagem suprema de autoconhecimento deixado por Krishna são ensinamentos maravilhosos. Abra estes livros com olhos de quem deseja descongelar os sentidos como ser humano. Leia-os raciocinando, pensando no que está escrito, e não apenas sendo um leitor passivo, ou seja engolindo as mensagens sem saboreá-las com prazer.
Muito há em comum nas palavras de Krishna e Cristo. Ambos falam na ignorância como a grande causadora de sofrimentos e da verdade como libertação. Porém, a liberdade só pode ser alcançada através do autoconhecimento. Krishna diz que há dois caminhos para atingi-la: um é o da sabedoria e o outro da ação e ambos são alcançados quando a pessoa tem o perfeito domínio de seus sentidos. Isso significa que ela é capaz de realizar seus atos externos, mas está desapegada deles. Nesse sentido, a pessoa faz o que tem que fazer por amor e não esperando louros, lucros ou qualquer outro tipo de vantagem. Sendo assim, quem vive apenas visando seu gosto pessoal, vive em vão. Evidentemente, este homem ou mulher é escravo/a de seus sentidos, ignorante da verdade. Ele/ela é afetado/a pelo mundo externo e obviamente, se está preso/a à realidade exterior é porque ainda não olhou para sua própria divindade. É escravo/a de seus atos e por assim ser, está condenado/a à perdição e essa atitude apenas obstrui o seu caminho de auto-realização. Simplificando, faça o que tem que fazer sem nada esperar, sem a necessidade de prêmio externo como reconhecimento ou gratidão, liberte-se do “TER” e entre na beleza plena do “SER”. Esta idéia você encontra patente no Evangelho nas seguintes palavras: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se sofrer prejuízo em sua própria alma?”.
Quando Cristo fala dos “puros de coração” em seu Sermão da Montanha refere-se justamente ao que Krishna fala no Gita e o próprio Krishna fala que puro de coração é aquele que renuncia a si mesmo, é aquele que realiza todas as ações sem ser escravizado por nenhuma delas, ou seja, é o/a homem/mulher que vive sua vida sem ser guiado/a pelo TER, sem ser cativo/a da idéia de vantagem ou lucro.
Muitas outras idéias compartilham Krishna e Cristo, entretanto, nada é mais certo do que este culto do TER. O eixo existencial do ser humano deslocou-se para o exterior. A felicidade está fora do Ser e, conseqüentemente, o que temos é uma progressiva desumanização do ser humano, que é levado a acreditar que as respostas vêm do exterior.Contudo, como Tchecov ainda acredito que o ser humano apenas possa realizar a promessa de sua humanidade se conseguir se libertar do “escravo” que carrega em si, e isto significa viver sem coerção ou falsidade, sem a ilusão de uma falsa liberdade. Isto é viver na ignorância. Isto é viver muito distante do que Krishna e Cristo falaram.
O que escrevi é apenas uma pontinha do iceberg. Muito mais há para ser bebido no Gita e no Evangelho. Muito mais há para ser aprendido com Krishna e Cristo.

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