A REVOLUÇÃO FEDERALISTA
DESTERRO – TRAGÉDIA
CEL MOREIRA CÉSAR
CANUDOS A CAMINHO DE DESTERRO
Monge João Maria de Jesus – antiga fotografia
Terra bonita,
Berço de heróis,
A República Brasileira, sempre erguida,
Graças ao heroísmo de todos vós.
“O ínclito General Gomes Carneiro, escreveu, talvez, a mais admirável página da história militar de um povo”. Mal.Floriano Peixoto.
Quartel General no aquartelamento das Forças Federalistas - Praça Osvaldo Cruz
GOMES CARNEIRO
MARIANA WEINHARDT GONÇALVES - poetisa paranaense da Lapa
Quem foi Antônio Ernesto Gomes Carneiro,
Patrono daquela estátua de General Altaneiro?
Lutou pela nossa Lapa
E não deixou o povo desistir !
Carneiro foi herói Lapeano
Herói muito orgulhoso.
Morreu lutando,
Bravo e raivoso.
Vamos honrar nosso herói
Com ternura.
Ele devia ter muita loucura,
Para tanto sangue na Lapa derramar.
Esta cidade do interior,
Que nunca interessa ao superior,
Mas só com guerra e vitória
É que entra para a História.
Essa foi a História desse Soldado,
Que quando entrava na guerra
Só saía com a vitória ou
Ensangüentado e carregado.
A cidade da LAPA, localizada nos arredores de Curitiba, desperta no leitor grande curiosidade, pois sua história e tradição, demonstra o heroísmo do paranaense, como diz sua filha ilustrada DOUTORA MARIA LÚCIA WEINHARDT, advogada e nobre Conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil e é para ela e à todos os ilustres lapeanos, essas linhas consultadas à historiadores dessa terra maravilhosa do Brasil. A poetisa paranaense MARIANA WEINHARDT GONÇALVES, ilustrada advogada da Lapa, filha daquelas terras sagradas, lembra com suas tintas literárias a saga de ANTONIO ERNESTO GOMES CARNEIRO, no poema "TRÁGICO 09 DE FEVEREIRO DE 1894 ".
A Lapa foi cercada, mas nunca seus ideais e quando o foi, seu povo resistiu à forças farroupilhas acantonadas nas cercanias da vila, na época, passagem para os planaltos araucarianos. Quando aportaram nos umbrais da Lapa, os gaúchos não imaginavam a ferrenha resistência advida. Meninos da vila, quando se referiam à luta que se avizinhava, não escondiam as suas preferências e diziam: “os nossos já vem vindo”, meninos-camaleões na camuflagem cabocla da resistência. A missão de barrar a avançada federalista na terra paranaense foi confiada a Gomes Carneiro, mineiro do qual ninguém cobra derrama, primeiro voluntário da Guerra do Paraguai, provado na defesa do Rio de Janeiro. O General chegara na Lapa para hastear a bandeira de um sonho secular e defendê-la. Os regimentos e batalhões estavam desfalcados, fracionados, e seus efetivos de 700 homens, os quais mal atingiam o de uma só unidade. Havia muitos voluntários paranaenses, porém sem treinamento militar, sem experiência de fogo. Em guerra de movimento, aproximava-se o mais formidável exército de que se tem conhecimento na História, de valentia e fúria inigualáveis, retratada na novela A CASA DAS SETE MULHERES. Davam combates sucessivos, avançava por campos e matas, serras e desfiladeiros, empolgando a população sertaneja. Agora vinha com bom armamento tomado ao inimigo, carroças e muares carregados. Na vanguarda, gaúchos brandindo facões tarjados de sangue fresco, seguidos de ferozes marinheiros com suas machadinhas. Não havia uma retaguarda propriamente dita, pois era um exército com garras em todas as frentes, que se atirava inteiro sobre o inimigo. A artilharia movia-se ao lado da infantaria e, às vezes, antecedia a cavalaria. Formado de contingentes móveis, as regras de sua guerra variavam de acordo com as circunstâncias. A avançada dos farroupilhas compunha-se de soldados de linha, fuzileiros navais, marinheiros, guardas nacionais catarinenses, estrangeiros de Corrientes e Entrerios, nômades e servos do campo, caboclos, bugres, gente de briga recrutada na massa plebéia. Um gênio guerreador o comandava, Gumercindo Saraiva. Afinal, aquele Exército era movido por um sentimento de revolta e de indignação, constituindo uma vantagem como se estivesse conscientizado de uma causa justa. As ilusões pelas quais se batia tinha a mesma força que o sonho secular defendido pelos pica-paus. Após a capitulação de Tijucas, engrossada ainda mais as forças que pretendiam envolver a Lapa, não era de esperar uma batalha, porém um massacre ou uma debandada. O Gal. Carneiro, para não perder a brigada cabocla de Joaquim Lacerda, permaneceu na vila, em posição desfavorável. Tinha de transformá-la numa fortaleza, embora sem muralhas ou paliçadas. Se eletrizasse a tropa com medidas severas de disciplina e civismo, contaria com o peito aberto dos bravos. Urgia o tempo, e Carneiro mandou por a pique os vapores do Iguaçu, fuzilar o quanto antes o Ten. Torely e anunciar o rigor das leis de guerra aos derrotistas, desertores e federalistas brancos. Um trem foi preparado para a retirada de velhos, mulheres e crianças, mas as mulheres exigiam que as acompanhassem os maridos, irmãos, noivos e filhos. Carneiro deixou que permanecessem na vila e numa escaramuça, ele e dois cavaleiros correram uns magotes de vinte maragatos. A sua tática consistiria em, aproveitando a topografia do terreno, os acidentes, impedir assalto de cavalaria quanto o de marinheiros em luta corpo a corpo. Dispôs a artilharia em pontos estratégicos, mandou cavar trincheiras e, no fim das ruas, foram erguidas barricadas com pedras, madeira e sacos de terra, além de caldeirões e alambiques de ferro de uma inacabada fábrica de conservas. Carros de munição e provisões foram colocados próximos às sapas. Cercas de arame farpado evitariam o bote dos lanceiros, o assalto de infantes e marinheiros, fuga e traição dos federalistas brancos. Carneiro acabou impondo as condições da batalha decisiva, a mais importante da guerra civil brasileira. Enfrentava um exército quatro ou cinco vezes superior em número e não podia afastar-se da vila para não ver dissolvida a força e porque tinha ordem de aguardar reforços que jamais chegariam. Mas a guarnição florianista, agora com moral, sabia que Gumercindo Saraiva dissera - “Me tenia volvido a los pampas si no fuera El tirano que és preciso tocar el poder...” -, equivocavam-se os que faziam blague com o nome de Carneiro. Rugia ordens um leão indomável na pele do Carneiro. Obedeciam-no os relutantes e, se era ríspido, visava disciplina, socorro aos feridos, tratamento aos prisioneiros, assistência aos comandados. Tinha de lutar contra intrigas, boatos e trama dos que procuravam minar-lhe a autoridade. A LAPA É SAGRADA, dizia. Lá fora estava o maragato paranaense Davi de Araújo e, cá dentro da vila, muitos partidários de Menezes Dória. Desde os primeiros dias de janeiro, os feridos vinham sendo tratados no hospital improvisado pelos médicos João Cândido, Felipe Wolf, Paula Xavier e alguns enfermeiros, enquanto o Dr. Albernás permanecia em casa “tocando flauta” e o Dr. Manoel Pedro foi para a cadeia. Os acampamentos dos arredores foram levantados e, na manhã do dia 14, o Ten. Mario Tourinho levou um trem de prisioneiros para Curitiba. No dia 15, forças do Cel. Piragibe vieram bombardear as posições, encontrando cerrada resistência de pica-paus emboscados na mata próxima. No terceiro dia, as guardas postadas em locais altos e estratégicos tiveram de recuar para dentro da vila, submetida ao canhoneiro, a esta altura dentro de uma semi-elípse de fogos. Na madrugada de 17 de janeiro, um outro trem saiu com destino a Curitiba e, perto da mata do Capivari, foi alvo das balas da brigada de Menezes Dória. Tomando a estação de Serrinha, este respondeu aos chamados telegráficos para a Lapa, com a cumplicidade dos funcionários. Telegrafou como se fosse o próprio Gal. Carneiro, declarando-se perdido e anunciando que milhares de rebeldes estavam marchando sobre a Capital. Houve pânico em Curitiba e o Gal. Pego fugiu, abandonando trens carregados de material bélico. Nesse mesmo dia, uma poderosa cavalaria contornou a Lapa, estabelecendo um cerco, numa manobra de ataque em todas as frentes.”. (1) Encantamentos e um tênue sentimento de saudade daqueles heróis invadem nossos corações, porque talvez sejam episódios heróicos que despertam amores e saudades. A Lapa apresenta em suas ruas e monumentos às marcas de dois fatos que foram determinantes na história brasileira: o tropeirismo e a Revolução Federalista. Há aqueles que dizem que ao fechar os olhos em alguns pontos da cidade, ouve-se gritos de bravura dos heróis que viveram na cidade. Distante a pouco mais de 60 km de Curitiba, a cidade era parada obrigatória do caminho de Viamão à Sorocaba. Os tropeiros que faziam seu “pouso” à margem da Estrada da Mata, deram origem a um povoado fundado por volta de 1731, a nossa Lapa. Somente em 1872, quando foi elevada à categoria de cidade, a Lapa recebeu este nome, que em latim significa pedra, a pedra no calcanhar de Aquiles. O nome faz uma referência às formações areníticas que formam a Gruta do Monge, um dos cartões postais lapeanos, um ponto de romaria de peregrinos em função de ter sido o local de refúgio do monge João Maria D’Agostinis em 1847. Seus muitos milagres, carregam a suntuosidade e cultura religiosa, atraindo pessoas à gruta, buscando cura para seus problemas. Nos tempos do tropeirismo, a cidade guarda até os dias de hoje, o Theatro São João e a Igreja Matriz de Santo Antônio, e construído em estilo elisabetano, o Theatro São João foi e continua sendo o centro cultural da Lapa. Com capacidade para 212 espectadores, foi construído em 1873 e possivelmente inaugurado em 1876. Em 1880, recebeu a visita do Imperador Don Pedro II e sua comitiva. Já a Igreja Matriz de Santo Antônio foi construída entre 1769 e 1784, em homenagem ao padroeiro da cidade. A igreja é considerada o marco arquitetônico mais antigo da cidade e até 1820, o seu interior serviu de cemitério. Nela foram sepultados os coronéis Antônio Ernesto Gomes Carneiro e Cândido Dulcídio, mortos em combate durante O CERCO DA LAPA, ocorrido em 1894. Este episódio foi uma conseqüência da Revolução Federalista, conflito que teve início no Rio Grande do Sul pela disputa do governo local e que acabou se estendendo até o Rio de Janeiro. Neste conflito a Lapa foi o último obstáculo na ação que implicaria na invasão territorial e massacre do ESTADO DO PARANÁ, uma terra de grandes e destemidos homens, sertanejos, trabalhadores. No dia 17 de janeiro de 1894, 639 homens chefiados pelo Coronel Antônio Ernesto Gomes Carneiro, enfrentaram em prol da República, as forças revolucionárias formadas por cerca de 3.000 combatentes que ficaram conhecidos como maragatos.
A Lapa, sitiada, resistiu durante 26 dias até a morte do Gal. Antônio Ernesto Gomes Carneiro. A resistência oferecida pelos lapeanos serviu para que o governo de Mal Floriano Peixoto ganhasse tempo para reunir esforço de guerra capaz de deter as numerosas forças militares do Governo da União Federal à enfrentar os guerreiros de farrapos. Quem passa pela Lapa tem a oportunidade de caminhar no cenário onde tudo aconteceu. Em agosto de 1989, as normas de uso do setor histórico com todo o detalhamento que envolve os casarios e a paisagem integrada foram tombados pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A memória de um passado certamente inesquecível encontra-se bastante preservada, porque faz da história paranista, uma odisséia de bravos à caminho da morte. Cada casa, cada rua, cada trecho, onde viveram ou tombaram personagens ilustres, formam um conjunto especial onde além da realidade histórica, se encontra impregnada a magia e o encanto das lendas que permanecem vivas através das chamas dos velhos lampiões e das lamparinas dos velhos tempos. Com pouco mais de 2.000 km2 e a907 metros de altitude, apenas no seu centro histórico, a Lapa reúne 14 quarteirões com 235 imóveis. Neste espaço, muitas são as casas que retratam arquitetura típica dos séculos XVIII, XIX e XX. Uma das construções mais antigas, que ficam no centro histórico da Lapa, é a Casa Vermelha. Embora não se saiba exatamente a data de construção desta casa, presume-se, por suas características arquitetônicas luso-brasileiras, que foi erguida na primeira metade do século XIX. A Casa Vermelha já abrigou um estabelecimento comercial, que depois se tornou um hotel citado no diário do médico Felipe Maria Wolf, durante a Revolução Federalista. Hoje o espaço da casa é ocupado pelo Centro de Artesanato Aloísio Magalhães e o Museu do Tropeiro. A medida que os visitantes vão cumprindo o roteiro de visitas aos casarios, eles podem admirar, com o entardecer, o belo cenário que se forma nas ruas iluminadas por lampiões da época. Com o cair da noite, toda esta magia da cidade, parece um convite para conhecer suas delícias gastronômicas. Restaurantes aparentemente modestos oferecem saborosos pratos. Feijão tropeiro, bolo de polvilho, marmelada de tacho, doce de gila e broinhas de araruta, são algumas das opções que tornam o passeio ainda mais agradável. Sem falar nas festas e comemorações realizadas ao longo do ano, onde o povo reunido se diverte, espalhando alegria. O calendário de festividades inclui as congadas de São Benedito, os leilões de Santo Antônio, os tapetes de Corpus Christi, os 9 de fevereiro no Pantheon, os entrudos de terça-feira de Carnaval, os 13 de junho na Matriz, os bailes do “Congresso” e os Rodeios Tradicionalistas. A figura do tropeiro é reverenciada na Lapa, a 71 km de Curitiba, personagem central na fundação da cidade e seu desenvolvimento como pólo turístico. Além da história, a Lapa tem recursos naturais belíssimos, com um turismo rural que se fortalece a cada dia, e um parque estadual onde está à famosa Gruta do Monge, ponto de peregrinação de fiéis. A cidade tem um colorido especial, favorecido por um clima ameno e as fortes pinturas das casas em uma profusão de cores e combinações considerada única. O portão de entrada é o Monumento do Tropeiro, idealizado pelo artista paranaense Poty Lazzaroto e feito em azulejo em 1965, durante a construção da rodovia Lapa - Curitiba. Agora, estamos em 2006 e marca o 168.º Da Revolução Farroupilha no Território Contestado, hoje Centro-Oeste do Estado de Santa Catarina, considerando-se a data de 9 de março de 1838, quando as tropas revoltosas gaúchas adentraram nos Campos de Lages, no Planalto Catarinense. Iniciada em setembro de 1835, na então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, a Revolução Farroupilha alcançou as terras contestadas entre São Paulo e Santa Catarina em nas áreas mais próximas da fronteira norte da República Rio-Grandense, onde, como pontos estratégicos, as vilas de Laguna e Lages atraíam a atenção, a primeira, dos farroupilhas e, a segunda, dos legalistas. Os ‘farroupilhas’ tendo em consideração o valor de Laguna, como centro abastecedor de suas tropas e, por ser um porto de mar à sua disposição no momento que estavam sem saída para o mar, especularam do interesse em incorporá-la à República de Piratini. No planalto, tendo Lages como centro, as forças governamentais, procurando impedir o avanço dos ‘farroupilhas’ sobre aquela região, procederam a violento recrutamento, além de apossar-se de gado e mantimentos. A 9 de março de 1838, as forças farroupilhas invadiram Lages, assumindo o governo, anexando esta vila catarinense à República Rio-Grandense. A tomada de Lages causou imenso e compreensivo júbilo nas fileiras da República de Piratini, visto que era o primeiro território conquistado fora da Província do Rio Grande do Sul, acenando-lhes com a possibilidade de ir, pouco a pouco, conquistando outras áreas. Por terra e por mar, em julho de 1839 os farroupilhas entraram em Laguna, logo denominando esta vila de Cidade Juliana de Laguna, ali instalando o governo provisório da proclamada República Catarinense, empossando o comandante Davi Canabarro como seu presidente e a ela incorporando Lages a 17 de setembro. Em seguida, depois de várias tentativas de tropas legalistas, apoiadas por monarquistas da região, aconteceu o resgate de Lages pelo Império, mas, a 12 de novembro, novamente as terras lageanas voltaram ao domínio farrapo. Fazendeiros e peões do Planalto Catarinense, adeptos do regime republicano, aderiram à Revolução Farroupilha, porque esta era a expressão do seu movimento ideológico e de cunho separatista. A Revolução Farroupilha, que no primeiro momento era liderada por políticos da elite rio-grandense, objetivava apenas a substituição do Presidente da Província do Rio Grande do Sul. Desencadeou-se como movimento revolucionário só após a tomada de Porto Alegre, ao receber a adesão das forças populares organizadas. Os Campos de Lages estavam dominados pelos farroupilhas em setembro de 1839, quando o Governo Imperial decidiu enviar tropas ao Sul, pelo interior, determinando a concentração no povoado de Rio Negro, criado dez anos antes como sede de uma colônia alemã. Ali, juntaram-se 1500 homens, dos 10.º e 6.º Batalhões de Caçadores, do Rio de Janeiro, dos Batalhões da Guarda Nacional, Curitiba, Paranaguá e Antonina e Corpo de Voluntários do Campo do Tenente, que se deslocaram para os Campos do Corisco, hoje Santa Cecília, ali acampando a 25 de outubro, proclamando: "Serranos!". A vanguarda da Coluna do Rio Negro, que, como por encanto, se organizou e armou na extrema divisa da Província de São Paulo, em menos de 60 dias, já pisa aquém do sertão. "Eia, Serranos, reuni-vos a estes bravos", bradavam. Travando pequenos combates com piquetes farroupilhas ao longo da Estrada das Tropas, em novembro de 1839, a Coluna Rio Negro chegou aos Campos dos Curitibanos, avançando até Campos Novos, de onde rumou para Lages, reconquistando a vila para os legalistas, ao mesmo tempo em que também retomavam Laguna. Dali, parte da coluna oficial do Brigadeiro Francisco Xavier da Cunha decidiu seguir em direção ao Rio Pelotas, para invadir o Rio Grande do Sul e rumou para o povoado de Santa Vitória. Na marcha, no Passo do Rio Pelotas, foram surpreendidos e derrotados pelos farroupilhas que escapavam de Laguna e rumavam para Lages. Derrotados em Laguna, em novembro de 1839, Garibaldi e sua força restante haviam fugido para o rumo a Lages e na passagem do Rio Pelotas, depois de juntar-se às tropas da Guarda Nacional, simpática aos farroupilhas, combateu as forças do Brigadeiro Cunha no célebre combate de 14 de dezembro, denominados pelos legalistas como "O desastre de Santa Vitória". Em seguida, a divisão farroupilha, que havia deixado Laguna, sob o comando de Joaquim Teixeira Nunes e José Garibaldi, dirigiu-se para Lages, ali adentrando e restabelecendo mais uma vez a República Catarinense. Novamente ameaçado pelas forças do Exército do Império, reforçadas pela divisão que subira de Cruz Alta e estava contornando a praça lageana, Garibaldi pressentiu que lhe estava sendo armado um cerco e que logo viria um ataque pelo Norte. A crença na manobra de cerco levou os farroupilhas ao grande desastre, quando dividiram seus efetivos em dois: um, seguiria de Lages, diretamente para guarnecer o setor de Curitibanos e, outro, tentaria o confronto pelo flanco Sul, em Campos Novos. Após passar o Natal de 1840 nos Campos de Lages, Teixeira Nunes e José Garibaldi iniciaram marcha para Curitibanos, agora acossados por outra coluna legal, de 600 homens, comandada pelo Coronel Antonio Melo Albuquerque. Os dois exércitos estavam próximos, mas um não sabia a localização exata do outro. A coluna farroupilha, comandada por Garibaldi e Teixeira Nunes, que saiu de Lages com menos de 500 homens, contornou Curitibanos e, quando se dirigia a Campos Novos, ao passar pela Fazenda Forquilha, nas proximidades do Rio Marombas, deparou-se com a divisão legal, completa, com mais de mil soldados, acampada nas coxilhas. Era meia-noite de 12 de janeiro de 1840 e o combate seguiu-se. A superioridade numérica dos legalistas foi decisiva. A maior parte dos sobreviventes farroupilhas embrenhou-se no sertão ainda antes do amanhecer e pouco mais de 50 conseguiram regressar a Lages. As duas tropas encontraram-se em terras da Fazenda Forquilha, próximo ao Rio Marombas, no local hoje conhecido como Capão da Mortandade. No combate, destacou-se Anita Garibaldi, a qual por sua própria iniciativa, tomava os feridos aos seus cuidados, servindo-lhes de carinhosa enfermeira. No campo das Forquilhas lhe haviam tocado distribuir as munições aos atiradores, muitos deles seus amigos do "Rio Pardo" e do "Seival". Quando a confusão nele se estabelecia e os farrapos, envolvidos, caminhavam depressa para a derrota, montava ela também, não menos ágil que era a cavalo de que seu pai, Bentão da Silva e, de espada em punho, os negros cabelos ao vento, entrava de cheio a lutar e a animar os combatentes, fazendo-o de tal jeito e com tal assombro que ao cair prisioneira já não estava mais nas proximidades de Garibaldi e sim distante dele, cercada pelos legalistas atônitos. As tropas republicanas começaram a voltar ao Rio Grande do Sul e em abril, a Vila de Lages foi finalmente retomada pelos legalistas. Em janeiro de 1840, a vitória foi decisiva para as forças legalistas, obrigando os farroupilhas a deixarem para sempre Santa Catarina, perdendo, dessa forma, a oportunidade de avançar sobre São Paulo, como pretendiam. No Rio Grande do Sul, lutaram bravamente até 1844, quando se renderam após dez anos de sacrifícios, massacres e carnificinas, em lutas pelo ideal republicano que, só 45 anos depois, se tornariam realidade no Brasil, quando da Proclamação da República, no Rio de Janeiro. Em Lages, Curitibanos e Campos Novos, foram fincadas as raízes de centenas de famílias que se instalaram no Centro-Oeste Catarinense durante a Revolução Farroupilha. Um significativo número de ex-combatentes farrapos, depois dos confrontos no Planalto, espalhou-se pela região, estabelecendo-se nas cercanias dos rios Pelotas, Canoas, Marombas, Taquaruçu e Peixe, e após a revolução, com medo de perseguições, muitos derrotados, caudilhos, peões, fugiram do território gaúcho, também se estabelecendo no Planalto, à direita do Rio do Peixe, às margens dos rios Uruguai, Irani e Chapecó, alcançando as barrancas do Iguaçu e seus afluentes, terras mais adiante reivindicadas pelo Paraná.
A REVOLUÇÃO FEDERALISTA COMO CAUSA MAIOR DO CERCO DA LAPA.
REVOLUÇÃO FEDERALISTA
Amiúde tenho lido algumas coisas de historiadores do Rio Grande do Sul, os quais fundam as aspirações da Revolução Federalista e por conseqüência os maragatos, para um ideal maior, a conquista do ESTADO BRASILEIRO, até então no poder Floriano Peixoto. Os revoltosos gaúchos acreditavam numa nova ordem e militarmente tomaram o sul e cercaram a LAPA, mas sequer imaginavam a heróica e a bravura dos paranaenses, um calcanhar de Aquiles à investida dos gaúchos. Os farroupilhas desacreditam nos valores heróicos do paranaense, tornado uma barricada às investidas gauchescas. Sem descer a minúcias, creio que a resistência lapeana foi muito mais feroz e férrea que a trajetória dos maragatos, estes em meio a comboios militares dantanho, um exército superior em armas e homens, mas inferior nos ideais. Era uma guerra sem quartel, entre milhares e poucos e estes os paranaenses não foram consagrados como a horda das coxias da noite – foram simplesmente heróis, maiores que todos. Lendo o Professor Valério Hoerner Júnior, PUC-PR, membro da Academia Paranaense de Letras e autor de vários livros sobre o Paraná, lembra sua passagem: “...Se saísse no encalço dos maragatos dar-se-ia mal, pois grande parte daqueles homens eram paisanos postos em armas a maneador ou pela contingência da obrigação de defender o seu torrão, nada mais que isso." Ali teriam postura de defesa, não feitos soldados improvisados postos atropeladamente atrás de um contingente furioso. Ficaram e defenderam sua praça. Mas chegou um momento em que não havia mais comida e os tiros eram contados nos dedos. Nem assim Carneiro vacilou: - “Até o último homem”!" O Coronel Lacerda, ao lado, bravo paisano, não concordava e face às circunstâncias, não dizia, mas desejava a rendição. Até que um dia, de repente, Carneiro tomou aquele tiro de fuzil. Balaço maragato? A história oficial diz que sim. A oficiosa diz que não. Diz à oficiosa que tomou o tiro vindo de suas próprias fileiras. Houve um lapeano que, em 1944, por ocasião das comemorações do cinqüentenário do Cerco da Lapa, em depoimento a David Carneiro e ao Cel. Cordolino de Azevedo, deu o nome do autor do tiro fatal. Este fato foi narrado, certa vez, pelo próprio David Carneiro à Annibal Ribeiro Filho, mas David não lembrava o tal nome. Na impossibilidade de revelá-lo na época, acabara perdendo a anotação...”. Mais tarde, o professor narra esse contraponto, quando diverge de si, “... Mas, há lógica na versão e prova disso é que, morto Carneiro, a Lapa imediatamente capitulou.”, como queria o Cel. Lacerda. Seria ele o assassino de Carneiro? Mas afinal, o que foi a REVOLUÇÃO FEDERALISTA? Entre 1893 e 1923, o Rio Grande do Sul viveu duas sangrentas revoluções, a de 1893, denominada Revolução Federalista, conflagrando três estados da região Sul, tendo se conectado com a Revolução da Armada, que provocou o bombardeio do Rio de Janeiro, então capital federal. Os revolucionários lutavam contra o presidente do Estado, Júlio de Castilhos e o presidente da República, Floriano Peixoto. Alguns de seus integrantes defendiam ainda o sistema parlamentarista de governo, o recuo do federalismo exacerbado e outros a restauração da Monarquia. A Revolução Federalista mobilizou grupos e interesses nas repúblicas do Prata e outras nações estrangeiras. Foram muito sangrentas, típicas guerras de guerrilhas em que morreu cerca de 1% da população do Estado. A primeira eclodiu em 02 de fevereiro de 1893, quando o caudilho Gumercindo Saraiva, com 400 homens reunidos no Uruguai, ingressando em território gaúcho, juntou-se às forças do general Silva Tavares, atingindo 3 mil homens, formando o Exército Libertador. A 27 de junho de 1894, ocorreu o último grande combate. A 10 de agosto, Gumercindo Saraiva foi abatido em Santiago. As derradeiras oportunidades de apoio aos federalistas esvaíram-se quando o Al. Custódio de Melo não conseguiu tomar o porto de Rio Grande a 6 de abril de 1894, e o almirante Saldanha da Gama foi derrotado no combate do Campo Osório. A paz foi assinada a 23 de agosto de 1895, contra a vontade de Júlio de Castilhos. Os grandes derrotados foram os revolucionários federalistas. Por isso existe na LAPA, o PANTHEON DOS HERÓIS, em memória de muitos, tal como a lembrança do Cel. Joaquim de Rezende Correia de Lacerda, comandante da 2.ª Brigada durante a resistência, sendo sede do quartel desta Brigada. Em sua casa foi assinada a Ata de Capitulação da Lapa, em 1894, com todas as honras de guerra. Não muito além, as escaramuças de ideais alastravam-se, quando encontramos na história o Cel. de Infantaria do Exército Antônio Moreira César, o único comandante de expedição a morrer durante assalto à fortaleza dos jagunços do Belo Monte de Antônio Conselheiro. Assim, define-se a Revolução Federalista como um movimento sedicioso que envolveu as principais facções políticas do Rio Grande do Sul, quando dois partidos disputavam o poder. De um lado o Partido Federalista, reunindo a elite do Partido Liberal do Império, sob a liderança de Gaspar da Silveira Martins e d´outra banda, o Partido Republicano Rio-Grandense, agrupando republicanos históricos que havia tornado parte na proclamação da República, liderado pelo governador Júlio de Castilhos. Ancorados em bases eleitorais nas cidades do litoral e da serra, os republicanos queriam, a todo custo, manter a poder. Já os federalistas, que representavam os interesses dos grandes estancieiros da campanha, lutavam contra a que chamavam de "tirania castilhista" e exigiam a reforma da Constituição do Estado, com vistas a impedir a perpetuação dos rivais no poder. Em 1893, ano da campanha eleitoral para o governo estadual, os federalistas, tratados por maragatos, iniciam sangrento conflito com os republicanos, apelidados chimangos ou de pica-paus. Os combates espalham-se pelo estado e se transformam em guerra civil, com milhares de vítimas. Os maragatos pedem a intervenção no Estado, mas o presidente Floriano Peixoto, prefere apoiar os pica-paus. Nos fins de 1893 e começo de 1894, os maragatos avançam sobre Santa Catarina e unem-se aos rebeldes da Revolta da Armada, que ocupam a cidade do Desterro, hoje a maravilhosa Florianópolis. Em seguida entram no Paraná e tomam Curitiba, mas sem recursos humanos e materiais suficientes, recuam e concentram suas atividades em território gaúcho, mantendo o aceso da luta até meados de 1895. No dia 10 do julho o novo presidente da República, Prudente do Morais, assina um acordo de paz. O governo central garante o poder a Júlio Castilho e o Congresso anistia os participantes do movimento. Os dois movimentos, Revolta da Armada e Revolução Federalista, terminam unidos, tendo por base a cidade Desterro, então capital do Estado de Santa Catarina. O porto da Ilha de Santa Catarina pela sua localização geograficamente estratégica, foi escolhido para servir de elo com o Sul amotinado, pelo almirante Custódio de Melo. Ali, com efeito, instala-se o governo rebelde e após vários entendimentos e discussões, a capitulação da guarnição militar foi proposta pelo Com. Frederico Guilherme de Lorena, capitão-de-mar-e-guerra, coordenada pelo Marechal de Campo Manoel de Almeida Gama Lobo d'Eça, Barão de Batovi. A imprensa federalista regozijou-se com os sucessos e em 04 de outubro de 1893, a Assembléia solidariza-se com os revoltosos e declara Santa Catarina, "Estado separado da União", enquanto Floriano Peixoto permanecesse presidente da República. A pacata e diminuta Desterro entra para a lista negra do marechal-de-ferro. Os federalistas, depois das sucessivas lutas e atos de heroísmo, são derrotados. Enquanto isso o Mal. Floriano nomeia e manda para Santa Catarina, no dia 19 de abril de 1894, armada de poderes discricionários, o impetuoso Cel. de Infantaria do Exército, Antônio Moreira César, com a finalidade do levar a cabo o "ajuste de contas". O delegado do governo federal desembarca em Desterro à frente de quinhentos militares do 7.° e 23.° batalhões de infantaria. Seu corpo de auxiliares, era integrado pelo Alferes João Lopes de Oliveira e Sousa, assim com Malaquias Cavalcante, como secretários, o Ten. Manuel Belerofonte de Lima e Chefe de Polícia, o Ten. Hermínio Américo Coelho dos Santos. No dito "ajuste de contas", prisões e fuzilamentos sumários de militares e civis, praticados em represália à rebeldia federalista, promotora da guerra civil centralizada em Santa Catarina, como observou o historiador catarinense, Jali Meirinho, "na interpretação justa forma atos criminosos", acrescentado, num contraponto, "Não se concebem prisões e execuções sem julgamento". Jali Meirinho, acrescenta, ainda que, "... recorrendo-se à legislação pertinente vinda do Império, os crimes cometidos em guerra, mesmo que interna, eram passíveis de pena de morte.", mas não a ponto da carnificina seguida do ajuste de contas. Não se pode deixar de considerar que o "ajuste de contas", fora uma resposta à crueldade federalista, particularmente aquela perpetrada pelos guerrilheiros de Gumercindo Saraiva, cuja prática corriqueira era a degola dos prisioneiros. Em Santa Catarina os fuzilamentos ocorreram na Fortaleza de Santa Cruz do Anhatomirim e o número exato dos executados é até hoje polêmico e controvertido. De acordo com Osvaldo Cabral, teriam sido 185, mas não menciona as fontes, tampouco o nome dos sacrificados. Duarte Paranhos Schutel, político, ex-liberal, simpatizante da causa federalista, em notas manuscritas, relaciona apenas 34 prisioneiros, possíveis fuzilados ou jogados no mar, a caminho da fortaleza. O historiador Lucas Alexandre Boiteux, republicano, em 1934, foi encarregado de promover o translado dos restos mortais dos fuzilados para mausoléu no cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro, relacionando 42 vitimas. O caso dos fuzilamentos tem sido motivo de sérias investigações,embora ainda permaneça controvérsias e acaloradas discussões acadêmicas e da história. Contudo há elevado número de mortes, apontado por precedentes da história da guerra, mas devido a informalidade das tropas irregulares, muitos nomes nem existiam e os que eram formais, mesmo listados como fuzilados, tempos depois apareceram vivos, contrariando números apontados por seus predecessores, lançando incógnita sobre a exata quantidade de sacrificados. Entre os fuzilados na Fortaleza de Santa Cruz do Anhatomitim, estava um baiano, o Dr. Alfredo Paulo de Freitas, que servia como major-médico em Desterro e foi chamado de sua casa e depois de apresentar-se, embarcou na corveta Niterói, emergindo numa tênue clandestinidade e dele não se obtendo notícias, sua esposa algumas vezes foi ao palácio do Governo em busca de informações. Numa dela se fez acompanhar de filha menor e consta ter sido recebida por Moreira César em pessoa. Ao tomar conhecimento de quem era a mulher, o Com. Moreira César mostrara-se solícito e explicou à mulher seu marido fora preso e enviado ao Rio de Janeiro para ser julgado. Ela, porém, embora não temesse, supunha para breve, o retorno do marido. Ao diálogo, tem se acrescentado, ato que aponta o Cel. Moreira César como um homem frio e calculista, pois teria tomado a criança no colo da mãe e dito, apontando para o mar, pela janela aberta ao céu azul do mar: "... papai está bem longe, mas voltará logo... ". O governador militar de Santa Catarina, no entanto, sabia que o Dr. Alfredo jamais retornaria, pois ele mesmo, mandara que o fuzilassem em Anhatomirim. É muito cinismo para a história. (fontes - coletânea in www.google.com.br – O CERCO DA LAPA – outras fontes - Oleone Coelho Fontes e Noel Nascimento) - Zuza Barão, agosto 2006 - São Paulo)
(1) NOEL NASCIMENTO – A REVOLUÇÃO DO BRASIL
Nenhum comentário:
Postar um comentário