Profeta

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Brasil registra mais mortes por armas de fogo do que conflitos armados internacionais

segunda-feira, 23 de novembro de 2009


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Brasília, DF - Na última década as mortes por armas de fogo registradas no Brasil superaram o número de vítimas de 23 conflitos armados no mundo, perdendo apenas para as Guerras Civis de Angola e da Guatemala. Nesse período morreram no Brasil 325.551 pessoas, em média 32.555 mortes por ano. Os dados fazem parte do estudo "Mortes Matadas por armas de fogo no Brasil 1979 - 2003", lançado pelo Representante da UNESCO no Brasil, Jorge Werthein, e pelo Presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, no Senado, em Brasília (DF).

"O lançamento tem como objetivo sensibilizar a sociedade brasileira para a importância do desarmamento da população e da aprovação do referendo sobre o fim da livre comercialização de armas e munições no País", afirma Jorge Werthein.

O estudo, coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, pesquisador da UNESCO e Chefe do escritório da Organização em Pernambuco, revela que, entre 1979 e 2003, as armas de fogo mataram 550 mil pessoas no País, ou seja, 35 mil vítimas por ano ou 100 pessoas por dia. A pesquisa confirma que os jovens, entre 15 e 24 anos, são as principais vítimas das mortes por armas de fogo: do total de vítimas, 206 mil eram jovens nessa faixa etária. Só no ano de 2003, 41,6% dos casos registrados foram de jovens.

A pesquisa foi feita com base em dados do Sistema de Informações de Mortalidade, no caso Brasil, o DATASUS do Ministério da Saúde, e, no caso internacional, da Organização Mundial de Saúde (OMS), detalhando a causa de mortes por uso de armas de fogo em acidentes, homicídios, suicídios e indeterminada. Os dados foram analisados ano a ano conforme o número de mortes por armas de fogo no Brasil. O autor compara a morte por armas de fogo com outras causas de mortalidade como acidente de trânsito, enfermidades etc. Além disso, as mortes por armas de fogo no País foram comparadas com o número de vítimas de 26 conflitos bélicos ocorridos em 25 países do mundo, em períodos distintos. Chama a atenção o fato de o Brasil, mesmo sem ter conflitos religiosos, de fronteiras ou luta política armada, registrar mais vítimas das armas de fogo do que nações atingidas por conflitos bélicos declarados.

Com o lançamento do livro, a UNESCO e o Senado Federal pretendem fortalecer o movimento já iniciado com a Campanha do Desarmamento, de forma a contribuir com a promoção de uma cultura de paz no Brasil. Os números mostram que é importante reduzir o número de armas em circulação no País e também a venda de armamentos para se reduzir a violência.


Alguns dos principais resultados do livro:

• Entre 1979 e 2003, acima de 550 mil pessoas morreram no Brasil vítimas de disparos de algum tipo de arma de fogo, num ritmo crescente e constante ao longo do tempo. Nesses 24 anos, as vítimas de armas de fogo cresceram 461,8%, enquanto a população do país cresceu apenas 51,8%. O crescimento foi puxado pelos homicídios com armas de fogo, que registraram um crescimento de 542,7% no referido período. Os suicídios com armas de fogo subiram 75% e as mortes por acidentes com armas caíram 16,1%.

• Das 550 mil mortes, 205.722, ou seja, 44,1%, foram jovens na faixa de 15 a 24 anos. Considerando que os jovens representam 20% da população total, conclui-se que, proporcionalmente, morrem mais de o dobro de jovens vítimas de armas de fogo do que nas outras faixas etárias.

• Entre os jovens, o crescimento do uso letal de armas de fogo foi ainda mais violento do que na população total, chegando a 640,3%. Os homicídios também são os maiores responsáveis por este crescimento, ao aumentarem 742,9% no período, enquanto o número de suicídios cresceu 61% e os acidentes envolvendo armas de fogo caíram 16,7%.

• Também aumentou a participação da população jovem entre as vítimas das armas de fogo. Em 1979, houve 2.208 mortes juvenis por armas de fogo, representando 31,6% do total de vítimas pr armas de fogo. Em 2003, os 16.345 jovens que morreram por balas de armas de fogo representaram 41,6% do total de vítimas.

• Para o conjunto da população brasileira, as principais causas de morte são as doenças do coração, as cerebrovasculares e, em 3º lugar, as provocadas por armas de fogo. Entre os jovens, contudo, as armas de fogo são a principal causa da mortalidade, numa proporção bem maior que a segunda maior causa de mortalidade juvenil, representada pelas mortes por acidentes de transporte.

• Comparativamente, em 2003, 11.276 pessoas, entre elas, 606 jovens, morreram vítimas da aids. Essa epidemia ocupa a 11ª posição entre as causas de mortalidade da população total e a sexta, entre a população de 15 a 24 anos.

• Entre 1993 e 2003, morreram no Brasil 325.551 pessoas, em uma média de 32.555 mortes ao ano. Em uma comparação com a mortalidade em 25 conflitos armados no mundo, o Brasil apresenta a maior média de mortos/ano.

• Em números absolutos, o Brasil fica atrás apenas da Guerra Civil de Angola, que teria causado a perda de 550.000 vidas, ao longo de 27 anos de conflito, e para a Guerra Civil da Guatemala, que, entre 1970 e 1994, teria causado 400.000 vítimas.

• O Brasil apresenta números e médias de mortes ao ano mais elevados que conflitos armados como a Guerra do Golfo, a Primeira e a Segunda Intifadas, a disputa entre Israel e Palestina e os conflitos da Irlanda do Norte.

• Dos 57 países analisados, o Brasil ocupa a segunda posição, logo abaixo da Venezuela, quando se trata da população total. Entre os jovens, o Brasil ocupa a terceira posição, logo depois da Venezuela e de Porto Rico.

• Entre a população jovem, o Brasil apresenta a 3ª mais elevada taxa de óbitos relacionadas a homicídios por armas de fogo, a 3ª taxa para mortes por armas de fogo cuja causa é indeterminada. Em relação aos acidentes com armas de fogo, ocupa a 15ª posição entre os países estudados e a 20ª, em relação aos suicídios.

• São poucos os países no mundo nos quais, como no Brasil, a mortalidade por armas de fogo supera as taxas de óbito em acidentes de transporte. Entre os 57 países analisados, só em seis casos isso acontece, e cinco deles são países da América Latina: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela.

• Também são minoritários os países em que as mortes por armas de fogo superam as taxas de suicídio. Do total analisado, são 15 os países que se encontram nessa situação, e a maior parte deles é da América Latina.

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