Profeta

terça-feira, 23 de março de 2010

Saddam Hussein

Foto de Saddam Hussein numa carta de baralho feita pelo governo dos Estados Unidos, com objetivos de humilhação, de um baralho onde constavam outras pessoas chaves do antigo regime

Saddam Hussein nasceu na aldeia Al-Awja, pertencente à cidade muçulmana sunita de Tikrit, situada a 150 quilômetros de Bagdá. Nascido no mesmo lugar que o lendário Saladino e descendente de uma família de camponeses. Saddam, ainda na adolescência, se mudou para Bagdá.

Em 1956, aos dezenove anos, aderiu ao Partido Socialista Árabe Ba'ath (fundado na Síria por Michel Aflaq) e, no mesmo ano, participou de um golpe de Estado fracassado contra o rei Faisal II. Dois anos depois, participou de outro golpe, dessa vez contra Abdul Karim Qassim, carrasco do monarca e líder do novo regime golpista. Acusado de complô, foi condenado à morte à revelia em fevereiro de 1960, sentença da qual conseguiu escapar fugindo para o Egito e através da Síria, onde as autoridades lhe concederam asilo político.

No Cairo, concluiu seus estudos secundários e foi admitido na Escola de Direito — terminaria a faculdade anos depois, em 1968 —, onde se relacionou com jovens membros do Partido Ba'ath egípcio, de inspiração esquerdista e pan-árabe. Acabou sendo perdoado e voltando a Bagdá após a revolução liderada pelo partido Ba'ath em fevereiro 1963. Saddam assumiu o comando da organização militar do partido. No ano seguinte, voltou à prisão, que só deixaria três anos depois.


Aspectos de família

O presidente iraquiano se casou duas vezes: em 1963, com sua prima de sangue Sajida Khairallah, filha do tio que o adotou e com quem teve dois filhos e três filhas, Raghad, Rana e Hala — que após o desmoronamento do regime foram acolhidas pelo rei Abdullah II da Jordânia —; e em 1988, com uma mulher também de seu clã, Samira Fadel Shahbandar, que lhe deu supostamente outro filhos de nome Ali que atualmente vive em Beirute. Saddam teve também dois filhos varões — Uday e Qusay.

Ascensão ao poder

Conhecido por admirar o ex-presidente soviético Josef Stalin, Saddam nunca foi um ideólogo, mas apelou muitas vezes ao nacionalismo árabe, ao Islã e ao patriotismo iraquiano para cimentar sua liderança.

Embora o revolucionário Ba'ath, o qual combinava o pan-Arabismo secular com a modernização econômica e o socialismo, tenha sido momentaneamente derrubado e Saddam, figura influente no partido, mandado para a prisão, o partido protagonizou outro golpe em 1968, e desta vez tomou o poder sem derramar uma gota de sangue. O ditador de Bagdad começara sua carreira no Partido Ba'ath e chegou à chefia da polícia secreta iraquiana do serviço secreto, a terrível Mukhabarat.

Vice-presidente

Bustos de bronze da Saddam.

Em novembro de 1969, Saddam foi nomeado vice-presidente do Conselho do Comando Supremo da Revolução, tornando-se assim o "número dois" do regime, depois do presidente general Al-Bakr, que era seu parente.

Como vice-presidente do Iraque durante o governo do idoso e frágil General Ahmed Bakr, Saddam controlou firmemente o conflito entre os ministérios governamentais e as forças armadas numa altura em que muitas organizações eram consideradas capazes de derrubar o governo, criando um aparelho de segurança repressivo. O novo regime logo se aproximou da União Soviética e em 1972 um Tratado de Amizade e Cooperação foi assinado entre os dois países. Depois, também foram selados acordos com a Alemanha Ocidental, o Japão e os Estados Unidos.

A economia do Iraque cresceu a um ritmo forte na década de 1970. Saddam destacou-se por investir pesado em saúde e em educação. Devido ao sucesso do programa, o número de matrículas acabou batendo recorde, e Saddam recebeu um prêmio da Unesco em 1977.

Presidente

Carlos Cardoen num encontro com o líder iraquiano Saddam Hussein.

No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, como vice-presidente do Conselho do Comando Revolucionário, formalmente o segundo em comando da al-Bakr, Saddam construiu uma reputação como um politico progressista e eficaz . Neste momento, Saddam subiu na hierarquia do novo governo auxíliando nas tentativas de reforçar e unificar o partido Ba'ath e tendo um papel preponderante na resolução dos grandes problemas internos do país e à expansão dos seguidores do partido .

Após os Baathists tomarem o poder em 1968, Saddam se concentrou em atingir a estabilidade em um país cheio de profundas tensões. Muito antes de Saddam, o Iraque havia sido dividido ao longo das linhas: social, étnica, religiosa, económica: xiita contra sunitas, árabes versus Kurd, chefe tribal versus comerciante urbano,nômade versus camponeses. Um governo estável em um país repleto de faccionismo exigia tanto repressão maciça quanto melhoria dos padrões de vida.

Saddam promoveu ativamente a modernização da economia iraquiana, juntamente com a criação de um forte aparato de segurança para evitar golpes na estrutura do poder e insurreições . Sempre preocupado em ampliar sua base de apoio entre os diversos elementos da sociedade iraquiana e mobilizando o apoio popular, ele seguiu de perto a administração dos programas de bem estar social e desenvolvimento.

No centro desta estratégia estava petróleo do Iraque. Em 1 de junho de 1972, Saddam supervisionou a estatização dos interesses internacionais do petróleo, que, na época, dominavam o sector petrolífero do país. Um ano mais tarde, os preços mundiais do petróleo subiram drasticamente, como resultado da crise energética de 1973 a receita do país cresceu assustadoramente o que permitiu Saddam expandir sua agenda.

Dentro de apenas alguns anos, o Iraque estava prestando serviços sociais que eram sem precedentes entre os países do Médio Oriente. Saddam estabeleceu e controlou a "Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo" e campanha de "Educação obrigatória gratuita no Iraque, e em grande parte sob a sua égide, o governo estabeleceu escolarização universal gratuitos do mais alto níveil de ensino; centenas de milhares aprenderam a ler nos anos seguintes ao início do programa.

O governo também apoiou famílias dos soldados, concedeu hospitalização gratuita para todos, e deu subsídios aos agricultores. Iraque criou um dos mais modernizados sistemas de saúde público e no Oriente Médio, Saddam ganhou um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

Para diversificar a enorme "oleo-baseada" economia Iraquiana, Saddam implementou uma campanha de infra-estrutura nacional a qual fez grandes progressos na construção de estradas, a promoção da mineração, e desenvolvimento de outras indústrias. A campanha do Iraque revolucionou indústrias energéticas. A electricidade foi levada para quase todas as cidades no Iraque e em muitas regiões periféricas.

Antes da década de 1970, a maior parte dos Iraquianos viviam no campo, onde ele próprio Saddam nasceu e foi criado, e cerca de dois terços eram camponeses. Mas esse número diminuiria rapidamente durante a década de 1970 porque o país investiu muito dos seus lucros do petróleo em expansão industrial.

Depois de nacionalizar os interesses das petrolíferas estrangeiras , Saddam supervisionou a modernização do campo, a agricultura mecanizada em grande escala e distribuição de terras aos camponeses. Os Ba'athists estabeleceram cooperativas agrícolas, em que os benefícios foram distribuídos de acordo com o merecimento individual e os trabalhadores não qualificados foram treinados. O governo também duplicou despesas para o desenvolvimento da agricultura em 1974-1975. Além disso, a reforma agrária no Iraque melhorou o nível de vida do camponeses e o aumento da produção.

Aos olhos de muitos iraquianos Saddam se tornou pessoalmente associado com os programas Ba'athistas de desenvolvimento económico e bem-estar, alargando o seu dominio tanto dentro de sua base tradicional, como entre os novos setores da população. Estes programas eram parte de uma combinação de "cenoura e pau" táticas de reforçar o apoio da classe trabalhadora, o campesinato, dentro do partido e da burocracia governamental.

A proeza organizacional de Saddam fez com que o Iraque se desenvolvesse em ritmo acelerado na década de 1970, o desenvolvimento foi tão grande que dois milhões de pessoas de outros países árabes, Iugoslávia e até mesmo o Brasil(Mendes Junior) trabalharam no Iraque para satisfazer a crescente procura de trabalho.

Para a consternação dos islâmicos conservadores, o governo de Saddam deu às mulheres mais liberdades e ofereceu-lhes alto nível de empregos no governo e na indústria. Saddam também criou um sistema jurídico no estilo ocidental,fazendo do Iraque, o único país na região do Golfo Pérsico que não era governado de acordo com a lei islâmica (Sharia). Saddam aboliu os tribunais Sharia,com exceção para os casos de danos pessoais .

Em 16 de julho de 1979, o presidente Al-Bakr renunciou por motivos de saúde. Saddam assumiu então os títulos de chefe de Estado, presidente do Conselho do Comando Supremo da Revolução, primeiro-ministro, comandante das Forças Armadas e secretário-geral do partido Ba'ath. Quinze dias depois, uma conspiração surgida entre os membros do partido do recém-nomeado líder máximo do Iraque terminou com a execução de 34 pessoas, entre elas membros do Exército e alguns dos mais íntimos colaboradores de Saddam Hussein.

Saddam logo cercou-se imediatamente de uma dezena de oficiais leais, os quais colocou em cargos de responsabilidade. É então que o poder se torna verdadeiramente autocrático, com os primeiros anos de governo do auto-intitulado El-Raïs el-Monadel (o Presidente Combatente) a serem marcados pela execução de centenas de oposicionistas e a morte de 5.000 curdos em Halabja, em conseqüência da intoxicação provocada pelas bombas de gás Tabun lançadas pela aviação iraquiana.

Alegado antepassado de Saddam

Saddam Hussein ganhou espaço nos noticiários contemporâneos quando alegou ser descendente direto de Nabucodonosor II, auto-proclamando-se reencarnação literal dele.

Saddam presidente: as Guerras do Golfo

Tendo sido ardoroso fã de Stalin na adolescência, como presidente, Saddam acabou por desenvolver um culto à personalidade característico do regime comunista de Stalin. Cartazes com retratos seus espalhados por ruas e avenidas de todo o Iraque, criação de uma imagem de islamita devoto e bom pai de família (embora fosse considerado um cético do ponto de vista religioso e apreciasse bebidas alcoólicas proibidas pelo Islão), eliminação violenta de toda a oposição política, censura à imprensa Saddam acabou por parecer, aos olhos do iraquiano comum, como o retrato da autoridade infalível, ainda que tirânica.

E como todo tirano, Saddam Hussein sempre temia que inimigos políticos o derrubassem. Construiu 23 palácios para uso pessoal, todos permanentemente vigiados, jamais dormia duas noites seguidas no mesmo local e jamais ingeria comida que não tivesse sido testada e provada por gente de sua confiança.[carece de fontes?]

A ambição de Saddam por tornar-se o líder mais poderoso do Oriente Médio o levou a declarar guerra ao Irã dos aiatolás. Nessa época, inclusive, ele chegou a receber apoio norte-americano, uma vez que os EUA temiam as conseqüências da ascensão da Revolução Islâmica na região. Usando como pretexto a disputa por poços de petróleo, as relações entre Irã e Iraque deterioraram-se rapidamente.

Primeira Guerra do Golfo: Guerra Irã-Iraque

Em 1979, o do Irã Mohammad Reza Pahlavi foi derrubado pela Revolução Islâmica, dando lugar a uma república islâmica liderada pelo Aiatolá Khomeini. A influência do Islão xiita revolucionário cresceu deste modo de forma abrupta, particularmente em países com grandes populações xiitas, em especial o Iraque. Saddam receava que as idéias radicais islâmicas, hostis ao seu domínio secular pudessem alastrar no seu país, entre a população xiita (a maioria da população do Iraque).

Havia também o antagonismo entre Saddam e Khomeini desde a década de 1970. Khomeini, que tinha partido para o exílio do Irã em 1964, viveu no Iraque, na cidade santa xiita de An Najaf. No Iraque, ele ganhou influência entre os xiitas iraquianos e ganhou seguidores. Sob pressão do Xá, que tinha acordado uma aproximação diplomática com o Iraque em 1975, Saddam expulsou Khomeini em 1978. Após a revolução islâmica, Khomeini teria considerado derrubar o regime de Saddam.

Após a tomada do poder de Khomeini no Irã, ocorreram pequenos incidentes de confrontação militar na fronteira, durante 10 meses, no canal de Shatt al-Arab, que ambas as nações reclamavam para si.

Iraque e Irã iniciaram a guerra aberta em 22 de Setembro de 1980. O pretexto para as hostilidades foi a disputa territorial. Saddam foi no entanto apoiado pelos Estados Unidos, pela União Soviética e por vários países árabes, todos eles desejosos de impedir a expansão de uma possível revolução moldada no Irã.

Saddam conduziu a Guerra contra o Irã entre 1980 e 1988. Contou com o apoio dos Estados Unidos, então governado por Ronald Reagan, que esperava a derrocada dos xiitas iranianos e de seu líder espiritual, o aiatolá Khomeini. Recebeu também o apoio do Kuwait, da Arábia Saudita e outras nações árabes, muitas delas igualmente preocupadas com a ameaça de uma igual revolução islâmica como a do Irã em seus territórios. No conflito, durante o qual Saddam aumentou a importação de armas do Ocidente, foram utilizados gases tóxicos na frente de batalha e estreitados os laços com os regimes árabes moderados. A guerra entre os dois países durou oito anos (o cessar-fogo foi assinado em 20 de agosto de 1988) e nela morreram mais de um milhão de pessoas. Não houve vencedor declarado, e a guerra levou o país a sérias dificuldades econômicas.

Segunda Guerra do Golfo: Kuwait

Donald Rumsfeld e Saddam Hussein.

Em 2 de agosto de 1990, apenas dois anos depois do fim da disputa, tropas iraquianas, seguindo ordens de Saddam Hussein, invadiram e anexaram ao território iraquiano o vizinho emirado do Kuwait, país que mais ajudou financeiramente o Iraque durante a guerra com o Irã. Mas nesse período, o Kuwait frustrava os desejos iraquianos na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de diminuir a produção para que o preço do barril no mercado aumentasse.

No início de 1991, uma coligação internacional dirigida pelos Estados Unidos (então governado por George Bush) obrigou o Iraque a retirar-se do Kuwait. As tropas da coligação detiveram-se na fronteira entre o Kuwait e o Iraque.

Vencido pelos aliados ocidentais, Hussein teve que aceitar o embargo econômico imposto a seu país pela ONU, organismo que, ao mesmo tempo, fez um acordo para inspecionar e desmantelar o programa armamentista (biológico e químico, especialmente) do país. Foi criado o programa "Oil for food" ("Petróleo por Comida").

Terminada a guerra, Saddam ainda teve que enfrentar as revoltas xiita e curda no Iraque, que não titubeou em reprimir duramente. Entre 1991 e 1992, EUA, Reino Unido e França estabeleceram, sem o respaldo de uma resolução da ONU, duas regiões de exclusão aérea — ao norte do paralelo 36 e ao sul do paralelo 32 - com o objetivo declarado de proteger a população curda e xiita.

A proibição dos aliados foi permanente fonte de conflitos desde sua entrada em vigor, terminando com a derrubada de alguns aviões dos dois lados, somados aos duros efeitos do embargo econômico que tentaram suavizar com o programa "Petróleo por Comida".

Nem a debilitada situação econômica nem o pós-guerra comprometeram o êxito de Hussein nas urnas, e, em 15 de outubro de 1995, o presidente iraquiano obtinha o apoio de 99,96% da população num plebiscito, o primeiro da história do Iraque, sobre sua continuidade no poder até 2002.

Dois meses antes, Saddam enfrentara a traição dos maridos de duas de suas filhas e íntimos colaboradores, Hussein Kamel e Saddam Kamel al-Majid, que em agosto de 1995, após se desentenderem com Uday, abandonaram o país e foram para a Jordânia levando os segredos do programa de armas proibidas do Iraque. A recusa dos países ocidentais em conceder asilo político aos dois genros de Saddam, apesar da oferta de informação militar secreta, precipitou o retorno deles, com as filhas e os netos do ditador, a Bagdá em fevereiro de 1996, com a promessa de perdão por parte de Saddam. Três dias depois da chegada, morreram numa invasão que também matou o pai dos traidores e outros parentes.

A Terceira Guerra do Golfo: Guerra do Iraque

Durante os anos 90, a ONU exigiu a eliminação das supostas armas de destruição de massa, que o Iraque sempre negou ter. A população do país foi castigada pelas duras sanções econômicas impostas pelas Nações Unidas. Em 1997, começaram as desavenças do regime com a UNSCOM, comissão da ONU encarregada de supervisionar o desarmamento do Iraque - por causa da suspeita de que país buscava armamento químico e nuclear -, o que se prolongaria por seis anos e que serviria de pretexto para os Estados Unidos invadirem o Iraque. Em 1998, EUA e Reino Unido bombardearam o Iraque, tentando forçar o regime de Saddam a colaborar com as inspeções da ONU.

Em 2001, como uma resposta aos ataques terroristas do 11 de setembro em Nova York e Washington, o presidente dos EUA, George W. Bush, incluiu o Iraque no chamado "eixo do mal", o que abria caminho para a nova campanha militar norte-americana contra o país. Após a campanha afegã contra o regime talibã, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, iniciou a "segunda fase contra o terrorismo internacional".

Bush acusou o Iraque de ter ou desenvolver armas de destruição em massa, contrariando as resoluções da ONU impostas após a Guerra do Golfo, e de manter vínculos com o terrorismo internacional. Saddam Hussein, que negou as acusações, acusou Bush de manipular a suposta ameaça que o Iraque representava para a paz mundial e acrescentou que a única coisa que Washington buscava no Iraque era o controle do petróleo no Oriente Médio.

Em 2003, George W. Bush moveu contra Saddam uma guerra para tirá-lo do poder, acusando-o de cúmplice no terrorismo antinorte-americano. Em 20 de março, a coalizão anglo-americana iniciou a intervenção militar no Iraque com um bombardeio inicial sobre Bagdá. Saddam foi expulso do poder pelas tropas estado-unidenses e britânicas numa guerra não autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU. Sua retirada do poder, porém, não significou paz para o Iraque, mas sua definitiva conflagração.

O paradeiro de Saddam foi desconhecido durante vários meses até que, em 4 de abril, a televisão iraquiana mostrou o ex-ditador, cercado de aliados seus, passeando pelas ruas da cidade. Em 8 de abril, um dia antes de as forças americanas atingirem o coração de Bagdá, um bombardeiro B-1 lançou quatro bombas de perfuração de bunkers contra um edifício da capital iraquiana, onde se acreditava que Saddam Hussein estivesse reunido com outros hierarcas do regime com o deliberado objetivo de assassiná-lo.

Mas ele conseguiu desaparecer depois que as forças da coalizão invadiram Bagdá, em 9 de abril. Escondido, continuou tentando motivar seus antigos combatentes, que se mostraram mais frágeis do que se imaginava e não resistiram ao poderio militar dos EUA — nem tampouco usaram as supostas armas químicas que motivaram o ataque.

Em 13 de dezembro de 2003, Saddam Hussein foi localizado, militando na resistência à ocupação, e preso num porão de uma fazenda da cidade de Adwar, próxima a Tikrit, sua cidade natal, numa operação conjunta entre tropas estado-unidenses e rebeldes curdos. As tropas encontraram o ex-presidente escondido num pequeno buraco subterrâneo camuflado com terra e tijolos. Embora estivesse armado com uma pistola e duas metralhadoras AK-47, rendeu-se pacificamente após uma suposta patética negociação onde pretendia subornar seus captores com a soma de US$ 750.000 que guardava numa maleta. "Sou o presidente do Iraque e quero negociar", teria proposto, em inglês. Segundo a coligação militar, foi um membro de uma família próxima a Saddam quem o delatou. Um jornal jordano publicou uma versão alternativa da prisão. Saddam teria sido drogado por um parente, que lhe servia de guarda-costas, e vendido aos americanos, em troca da recompensa milionária que era oferecida. A filha Raghad, exilada na Jordânia, diz que com certeza seu pai foi drogado, de outra forma teria lutado como "um leão". Paul Bremer e Tony Blair confirmaram esta notícia.

Saddam barbeado após sua captura por forças norte-americanas.

Saddam, que não apresentou resistência alguma, estava sujo e desorientado quando foi capturado. Posteriormente, foi submetido a um exaustivo reconhecimento médico e a um teste de DNA, que confirmou sua identidade. Entre as primeiras imagens transmitidas, algumas mostravam Hussein sendo examinado por um médico militar americano, assim como outras mostravam o local de sua captura. Tais imagens causaram variadas reações pelo mundo, desde aqueles que - tais como grande parte da população americana e até iraquiana — as justificaram por motivos políticos, sociais e militares, até os que (baseando-se em interpretações do direito internacional) argumentaram que as imagens representavam uma violação intolerável à Convenção de Genebra acerca do tratamento a prisioneiros de guerra capturados.

Em 1º de janeiro de 2004, o Pentágono o reconheceu como "prisioneiro de guerra", e, em 30 de junho, transferiu sua custódia judicial ao novo Governo provisório iraquiano.

Durante 24 meses, Saddam permaneceu sob custódia das forças norte-americanas, à espera de ser julgado por um Tribunal Especial iraquiano patrocinado pelos Estados Unidos, que em 19 de outubro de 2005 iniciou o processo contra o ex-ditador e o condenou à morte na forca em 5 de novembro de 2006.

O julgamento e morte

Julgamento - aspectos jurídicos

Saddam falando perante o Tribunal.

Apesar dos grandes genocídios a ele atribuídos, os defensores de Saddam Hussein argumentam que carecia de neutralidade o julgamento que, segundo eles, deveria acontecer em um tribunal internacional, com juízes de várias nacionalidades. Os apoiantes do julgamento, contudo, defendiam que ele fosse julgado pelo próprio povo iraquiano, o que duvida-se que tenha acontecido, pois o país estava sob ocupação militar e com um governo universalmente reconhecido, tanto por seus adversários como até por seus partidários, como fantoche e o julgamento se deu com as forças de ocupação dando treinamento meticuloso à promotoria e lhe disponibilizado recursos e informações imensamente desproporcionais aos da defesa.

Saddam foi formalmente acusado de genocídio cometido em 1982 (foi acusado de ter ordenado o massacre de 148 iraquianos xiitas em Dujail, após ter sido alvo de um atentado fracassado à sua vida). Como espetáculo mediático, esporadicamente vinham cenas do julgamento sendo-se que o fato de apresentarem-se testemunhos e provas de que o referido massacre aconteceu era aceito como a validar a culpa de Saddam, quando se trataria de ver qual seria sua responsabilidade concreta nos fatos e não a mera constatação de que os mesmos se deram. Recorde-se que o Iraque então estava em uma das guerras mais sangrentas depois da Segunda Guerra Mundial.

O Irã era em 1982, como hoje, uma teocracia xiita e os xiitas são maioria no Iraque, tendo sido o governo de Saddam predominantemente de sunitas, embora fosse um governo laico (não-religioso). Esse atentado à vida de Saddam desse ano, ao que se sabe, foi feito no Iraque por um grupo militante xiita (talvez tido como pró Irã ou pelo Irã patrocinado) em plena guerra Irã-Iraque. Aliás o mesmo grupo militante do presidente xiita do Iraque que, com sua mão e caneta, assinou a pena de morte de Saddam. O julgamento também sequer esclareceu se o massacre foi uma retaliação ao mencionado atentado ou se o atentado foi um estopim de um confronto que já precedia. Se em quase todas as guerras há massacres, tampouco esclareceu-se se este não deveria ser compreendido no contexto dessa guerra, ou seja, uma gota do sangue derramado num conflito que fez milhares de vezes mais mortos e de vítimas que esse massacre.

Recorde-se adicionalmente que Saddam foi durante essa guerra apoiado pelas potências ocidentais o tempo todo, as quais eram então adversárias da república teocrática iraniana, incluíndo precisamente as que compuseram a coalizão invasora de 2003, apoio esse que nunca foi comprometido pelos crimes atribuídos a Saddam, sejam aqueles pelos quais foi julgado, sejam quaisquer outros, acrescentando-se que eram todos eles de conhecimento internacional. Saddam somente cairia em desgraça por invadir o Kuweit e por manter uma postura desafiadora frente Israel e a seus anteriores patrocinadores ocidentais. Essa invasão se deu paradoxalmente sob um pretexto de legalidade: através de documentos falsificados acusou-se o Iraque de ter armas ilegais e mesmo sob as equipes de inspeção da ONU pleiteando mais prazos para inspecionar o país, o Iraque foi invadido ao arrepio de toda lei internacional, com a mesma ilegalidade que este invadira o Kuweit. Posteriormente, o argumento das armas ilícitas foi totalmente desacreditado ficando o motivo da invasão meramente especulativo, se seria este o objetivo humanitário de fazer bem ao Iraque democratizando-o ou demagogia belicosa para se exorcisar a derrota americana no Viet-nam ou vingança de algum tipo ou por interesses estratégicos e econômicos nesse país e região do mundo de importância petrolífera máxima.

O júri foi marcado pelo assassinato de três advogados de defesa, pela troca do juiz-chefe, pelo comportamento rebelde do réu e por sucessivos adiamentos e interrupções. Organizações de defesa dos direitos humanos, como a Anistia Internacional, condenaram o julgamento, afirmando que ele teve erros e vícios, por ter sido realizado em um país dominado por conflitos sectários.

Em 5 de novembro de 2006, após um julgamento conturbado, o tribunal iraquiano condenou Saddam à pena de morte por enforcamento por crimes contra a humanidade. No dia 26 de dezembro de 2006, um tribunal de apelação do Iraque confirmou a sentença contra Saddam Hussein.

Em sua última carta pública, dita testamento, escrita porque sua “sentença fora proferida por ordem dos inimigos invasores”, Saddam, mostrando valores da paz, respeito e tolerância, despede-se da vida terrena e dos “heróis corajosos e fiéis da nossa resistência, das iraquianas virtuosas e dos filhos da gloriosa nação iraquiana”, pedindo a reconciliação dos iraquianos afundados em conflitos entre sunitas e xiitas e deixando um apelo:

“Peço-lhes, meus irmãos e irmãs: não tenham ódio dos povos dos países que nos atacaram, causaram danos, nos separaram e afetaram a tomada de decisão”. E segue (trechos selecionados): “Paciência, em Deus procuramos conforto e ajuda contra os tiranos. Ofereço minha alma em sacrifício, e Deus Todo Poderoso a levará para onde estão os mártires, pois Deus Glorificado quis mais uma vez que eu estivesse no coração da jihad. Ou que seja feita a Sua vontade, Ele, o Clemente, o Misericordioso. Dele somos e a Ele retornaremos. Não odeiem o ser humano, mas repudiem o mal. (...) Saibam perdoar, pois Deus é clemente e perdoa mesmo sendo superior. Ele nos quer ideal exemplo do amor, do perdão e da fraterna convivência entre si. Que a lei seja seu embasamento e que sejam justos, pois as nações e os povos só crescem com justiça e não com rancores e ilegalidades. Os que se apóiam nos poderosos ocupantes para se sentirem mais fortes que os demais são banais e vis.”

Saddam Hussein, 69, foi entregue aos seus executores iraquianos pelas forças americanas que o custodiavam alguns minutos antes de seu enforcamento no início do dia 30 de dezembro, em Bagdad, gerando posições contrárias de várias instituições internacionais, como a Anistia Internacional, o Vaticano, bem como de vários países. A televisão estatal iraquiana levou ao ar imagens de Saddam Hussein, aparentando estar calmo, conversando com o carrasco que ajeitava a corda em volta de seu pescoço e o encaminhava para o cadafalso. Saddam se recusou a usar o capuz preto na hora da execução, tendo preferido ser enforcado com o rosto à mostra. Segundo o conselheiro da Segurança Nacional do Iraque, Mouwafak al-Rubai, durante a execução estiveram presentes um juiz do Tribunal de Apelação iraquiano, um representante da Promotoria, outro do Governo e "um grupo de testemunhas". Através de um celular foram ilegalmente filmados os instantes finais de Saddam em que se comprova outra versão de que sua execução não foi formal cumprimento de sentença judicial, mas com os presentes fazendo-lhe humilhações e insultos a impedir-lhe que morresse proclamando a oração "Só há um Deus e Muhammad é Seu profeta".

Saddam foi não julgado por genocídio contra os curdos iraquianos nem por quaisquer outros fatos relacionados que lhe pudessem ser imputados. O prosseguimento do julgamento de Saddam, anunciado que continuaria mesmo após a execução, foi suspenso, ficando assim sem julgamento quase a absoluta totalidade dos crimes que lhe foram imputados, passando o assunto da justiça para os historiadores, um dia, quem sabe, estabelecer a verdade.

O ex-presidente iraquiano foi sepultado no dia 31 de dezembro, próximo de sua cidade natal, Tikrit, numa propriedade de sua família, perto dos túmulos de seus dois filhos, Uday e Qusay, mortos pelas tropas de coalizão em julho 2003, vendidos pela recompensa de US$ 15 milhões oferecida por cada um deles, juntamente com seu neto.

Em 2008, a vida de Saddam Hussein foi retratada em uma minissérie britânica, produzida por BBC e HBO, intitulada House of Saddam. Dividida em quatro capítulos, a minissérie exibe a trajetória do ditador, desde sua posse, em 1979, até a queda em 2003, além de seu relacionamento familiar e com seus conselheiros.

Literatura

Saddam Hussein dedicou-se também à literatura, o primeiro romance, Zabibah e o Rei de 2001, foi um sucesso de vendas e foi igualmente transposto para um musical no Iraque. Mais tarde, terá editado A Fortaleza Inexpugnável, que também a ele é atribuída.[1]

Em 2003 foi publicada a biografia política de Saddam Hussein intitulada Saddam Hussein: A Political Biography escrito por Efraim Karsh e Inari Rautsi.

Referências

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