Oque fa
zem as tropas brasileiras no Haiti?
• Um dos elementos central Quando falo sobre o que vimos no Haiti, as pessoas se surpreendem. A maioria absoluta do povo brasileiro acredita que as tropas brasileiras estão nesse país em missão humanitária, contra a fome e para garantir a segurança contra as gangues de bandidos. Mas a realidade é bem diferente.
A verdade sobre as zonas francas
Ninguém sabe que está em curso a implantação de um plano econômico no Haiti, que inclui 18 zonas francas, com multinacionais produzindo para o mercado norte-americano.
Visitamos uma dessas fábricas, a Codevi, de Houanaminthe. Ao chegarmos às portas da empresa, encontramos cinco taperas de madeira sem paredes, que fariam qualquer barraco da pior favela brasileira parecer um palacete. São locais onde comem seis mil trabalhadores, lembrando bem o passado da escravidão.
A Codevi é uma multinacional, parte de um conglomerado dominicano (o Grupo M) ligado ao banco Chase Manhattan, que fabrica jeans para marcas famosas como Levis e Wrangler. Seus trabalhadores ganham U$ 48 por mês (menos de R$ 100) e trabalham vigiados por guardas armados.
Em 2003 a empresa reagiu contra a organização de um sindicato com a demissão de 370 ativistas. Os trabalhadores fizeram greves e uma campanha internacional que chegou aos EUA. Uma aliança com estudantes universitários de Nova York e Los Angeles possibilitou um boicote aos jeans dessas marcas. Depois de mais de um ano de luta, a empresa teve de readmitir os operários. Em nossa visita, uma operária nos falou da mobilização atual contra a demissão de 42 trabalhadores por causa de uma greve espontânea por salários.
Em Cité Soleil, onde está sendo organizada outra zona franca, conhecemos os trabalhadores da Hanes, a mais importante fabricante de camisetas dos EUA. Essa multinacional acaba de demitir 600 operários para fechar a fábrica, e se recusa a pagar os direitos trabalhistas dos demitidos.
Ouvimos uma das operárias falar indignada sobre as condições de trabalho na empresa. Disse que elas trabalhavam 12 horas seguidas, sem direito a nenhum intervalo, nem para o almoço, ganhando 70 gourdes ao dia (uns R$ 110 por mês). A fábrica colocava cadeado nas portas para evitar o abandono da linha de produção para ir ao banheiro. Agora demite todo mundo e não quer pagar nada. A operária fez uma comparação justa: “somos os escravos modernos”.
As tropas brasileiras estão no país para ajudar as multinacionais, como a Codevi e a Hanes, a explorar brutalmente essa mão-de-obra barata. O objetivo não é resolver a pobreza, mas produzir para o mercado norte-americano a custos mínimos. Por isso, as empresas pagam salários três vezes menores que os já baixíssimos do Brasil, e ainda contam com uma enorme reserva com 80% da população desempregada.
Etanol: o acordo entre Lula e Bush para explorar o país
Lula estabeleceu em maio de 2006 um acordo com o governo haitiano de cooperação técnica para a produção de etanol.
Com as terras férteis e a mão-de-obra baratíssima do Haiti, o plano envolve o agronegócio brasileiro em acordo com o governo Bush para responder a parte das necessidades do mercado dos EUA.
Obviamente não se está pensando na produção de alimentos para suprir a fome do povo haitiano, mas em etanol para abastecer os automóveis norte-americanos.
Segurança para quem?
Na discussão de nossa delegação com o embaixador brasileiro, ele defendeu a ocupação militar para “garantir a segurança”. Ele se gabava que a ação das gangues tinha diminuído pela repressão das tropas.
Mas o próprio embaixador esclareceu o objetivo desta ação. Ele dizia que isso é fundamental para que os “investidores possam vir para o Haiti”. Ou seja, ele defende a segurança para as multinacionais.
O Congresso dos EUA aprovou há cerca de um mês – depois da “segurança” proporcionada pelas tropas brasileiras – a lei Hope, que abre o mercado dos EUA para empresas têxteis estabelecidas no Haiti.
Como parte da negociação dessa lei, há três semanas o presidente René Préval, depois de chegar dos EUA, anunciou a privatização da telefônica, dos portos, do aeroporto e da saúde.
O que preocupa as grandes empresas não é essencialmente o problema das gangues. É a possibilidade de uma nova insurreição no Haiti, como as que já ocorreram ao longo de sua história.
A burguesia haitiana não conseguiu garantir nenhum Estado nacional. Não estabilizou uma democracia burguesa, e por isso recorreu 56 vezes a golpes de Estado. Não conseguiu garantir sequer um exército. As forças armadas foram dissolvidas em 1994 pelo governo Aristide, e sobrou apenas a odiada polícia haitiana.
Na conversa com o presidente Préval, ele também nos dizia que as tropas teriam que ficar “até que se pudesse reorganizar as forças armadas”. As forças da ONU já reprimiram diretamente uma greve em uma fábrica, a Larsco.
As tropas estrangeiras cumprem o papel do Estado para assegurar a dominação das multinacionais e prevenir uma insurreição.
A grande farsa
Para o povo brasileiro é vendida a idéia de que o governo Lula se preocupa com a pobreza dos haitianos e que as tropas cumprem ações humanitárias.
Essa é uma operação de propaganda tão falsa quanto aquela para invadir o Iraque – a existência de armas de destruição em massa de Saddam Hussein. Como se comprovou, Bush queria roubar o petróleo iraquiano.
Para as grandes multinacionais e o agronegócio brasileiro, a pobreza haitiana é lucrativa, pois explora uma mão-de-obra semi-escrava. A ocupação militar e o plano econômico reduzem o Haiti novamente a uma colônia.
O Brasil está ocupando militarmente o Haiti a serviço do governo Bush. Seria muito mais difícil para os EUA ocuparem o país sem despertar uma reação violenta de seus habitantes. Os brasileiros são admirados pelo futebol e pela identidade na cultura negra e latino-americana.
Lula comete no Haiti um de seus maiores crimes. O Brasil revela o papel de sub-metrópole que cumpre no continente, de um país explorado que ajuda a explorar outros em situação ainda pior. Tudo a serviço do imperialismo ianque.
Uma “ajuda humanitária” a serviço dos interesses imperialistas
DECLARAÇÃO DA LIGA ESTRATÉGIA REVOLUCIONÁRIA – QUARTA INTERNACIONAL
Enquanto a imprensa imperialista propagandeia o envio de tropas, a ocupação militar e a tomada de controle do Haiti como “ajuda humanitária” e os estados imperialistas e suas multinacionais tentam cobrir-se com aparência benévola anunciando “doações”, o governo brasileiro trata de utilizar o catastrófico terremoto para vender a imagem de que sua liderança nas tropas da ONU (MINUSTAH) que ocupam aquele país desde 2005 cumpre um suposto papel “humanitário”. Entretanto, a enorme dimensão da catástrofe por um lado, e o conflito entre os distintos interesses imperialistas e capitalistas por outro, vem tratando de evidenciar a realidade por trás destes discursos. As organizações operárias e populares e inclusive a própria imprensa burguesa e as organizações de assistência social ligadas às tropas ocupantes têm mostrado como as tropas dos EUA e da MINUSTAH vêm atuado de acordo com os interesses cada país ocupante e das elites locais, em detrimento das necessidades da esmagadora maioria do povo haitiano que padece de sofrimentos inimagináveis. Não tem sido possível esconder que, desde o início da suposta operação “humanitária”, o controle do aeroporto e dos portos está a serviço de trazer contingentes e aparato militar e transportar a elite do privilegiada do país, em detrimento do escoamento de alimentos, remédios, médicos e auxílio para o resgate de pessoas sob os escombros. Salta aos olhos a “prioridade” dada ao “salvamento” dos bairros ricos, hotéis de luxo e instalações da ONU em detrimento dos bairros pobres. A propaganda ideológica que tenta justificar o recrudescimento da ocupação e da ação repressiva militar com os saques que o povo justamente realiza em sua busca por sobrevivência contrasta com os depósitos de mantimentos e remédios da ONU rigorosamente guardados pelas tropas imperialistas.
O jogo de cena diplomático...
Nos últimos dias, temos assistido na imprensa um verdadeiro “show business” (para não dizer “show de horrores”), no qual, enquanto os haitianos estão mergulhados na catástrofe, Brasil, EUA, ONU e União Européia disputam holofotes e posições sobre este território, cada um galgando para si maiores “brios” pela “ajuda humanitária”; cada qual buscando reservar para si parte mais importante no “botim” da reconstrução. A tal ponto que o ministro da Itália responsável pela operação de salvamento diante do terremoto neste país ano passado chegou a denunciar que o número de morte foi muito maior devido à falácia da “ajuda humanitária” orquestrada pelo imperialismo no Haiti. A “Conferência Preparatória Ministerial em favor do Haiti” que reuniu cerca de 20 países e instituições no Canadá dia 26/10 se esforçou em mostrar o governo do Haiti como “líder” do país. O que não passa de mera formalidade diplomática frente ao brutal aumento de tropas estrangeiras; frente ao “consenso” desta mesma Conferência de que a ocupação durará como mínimo mais 10 anos; ou frente à declaração dada por Hillary Clinton ao jornal The New York Times em sua primeira visita ao país após o terremoto, sobre sua sutil “sugestão” ao presidente do Haiti para que decretasse “estado de sitio”: "O decreto daria ao governo uma quantidade enorme de autoridade, que, na prática, seria delegado a nós". O servilismo do governo haitiano fica ainda mais evidente quando este publicamente defende os EUA diante das inúmeras denúncias de o “amo do norte” estaria aproveitando a situação para reforçar sua ocupação militar. Por mais que o governo brasileiro e o governo norte-americano se esforcem para transmitir a idéia de que não existem maiores conflitos entre eles na “gestão” da catástrofe, as palavras vêm sendo permanentemente desmentidas pelos fatos. De um lado, os EUA, por mais que declarem seu papel como “passageiro”, reforçam sua presença no Haiti com mais de 16 mil soldados (enquanto as tropas da Minustah não passam de 9 mil, com autorização recente para serem acrescidos com mais 3,5 mil), controlam sozinhos os principais pontos estratégicos, como o aeroporto e o porto, e não aceitam submeter suas tropas ao comando da ONU. Por outro lado, o Brasil, que hoje tem 1,3 mil homens em solo haitiano e recentemente aprovou envio de mais 1,3 mil reivindica para si a liderança do que vem sendo chamado “processo de reconstrução”. Diante da proposta do FMI de um “Plano Marshall” para o Haiti (em alusão à iniciativa dos Estados Unidos para reerguer a Europa depois da Segunda Guerra Mundial), o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, tratou de contrapor sua proposta de implementação de um “Plano Lula". Amorim assim explicitou sua visão sobre os respectivos papéis de Brasília e Washington no Haiti. "A nossa presença aqui é de longo prazo, e a das forças americanas é passageira". Inclusive no âmbito militar estes conflitos têm se evidenciado, não só nas declarações de protesto do Comandante das forças brasileiras no país, Floriano Peixoto, mas inclusive em manobras como a distribuição de alimentos pelas tropas brasileiras em frente aos destroços do Palácio do Governo haitiano, a contragosto dos EUA que controlam este local.
... e os reais interesses em jogo no Haiti
As contradições entre os gestos diplomáticos conciliadores e os conflitos que têm se desenvolvido entre os países que intervém no Haiti se explicam pelos interesses imperialistas e capitalistas, políticos e econômicos, em jogo neste país. Como se diz na própria imprensa imperialista, Obama quer que o Haiti seja para seu governo o contrário do que foi o Katrina para o governo Bush. Entretanto, existem outros interesses imediatos e estratégicos por trás da magnitude do aparato militar enviado pelos EUA. Em primeiro lugar, querem garantir que a debilidade do Estado haitiano e das tropas da ONU não dê lugar a um processo de rebelião e revolta popular. Ligado a este temor, querem garantir a “integridade” do capital que têm investido neste país. Os monopólios capitalistas norte-americanos possuem significativos negócios no Haiti, nos quais se vinculam com as classes dominantes nativas, latifundiários e grandes burgueses, que representam cerca de 3% da população. O governo estadunidense foi responsável pela criação de um pólo de indústrias maquiladoras neste país, onde corporações como Nike e Adidas produzir seus artigos esportivos pagando um salário de fome aos trabalhadores. Pelas tabelas oficiais, uma costureira na capital, Porto Príncipe, deveria receber US$ 0,50 por hora, contra US$ 3,27 no Brasil e US$ 16,92 nos EUA. São pessoas que vivem, tanto em suas casas como nas empresas, em verdadeiros campos de concentração, extremamente militarizados, trabalhando para exportar produtos a preços irrisórios para o USA [1]. Simultaneamente à ocupação da Minustah, o Congresso norte-americano criou uma lei ironicamente chamada “Hope” ("Haiti Hemispheric Oportunity Trough Partnership Encourajement", cuja sigla em inglês ironicamente significa "esperança"), cuja função é impor ao Haiti que a cada 1 m² de roupa feita com tecido estrangeiro para exportação ao USA, o Haiti deve usar 3 m² de tecido local, dos EUA, ou de países que têm TLCs com os EUA. Para além destes interesses econômicos imediatos, os Estados Unidos obviamente também estão interessados em obter sua parte (o quanto maior, melhor) no “botim” da chamada “reconstrução” do Haiti. As multinacionais ianques já tiveram uma “excelente” experiência do que significou para seus lucros sua participação no botim da “reconstrução” do Iraque. Agora, não poderia ser diferente, ainda mais quando serão “ajudados” pelos significativos cofres de doações destinados ao Haiti. Desde o ponto de vista estratégico, não podemos descartar que os EUA possa estar interessado em consolidar uma posição militar mais forte no Caribe que possa servir como um elemento a mais de pressão para a restauração capitalista em Cuba; ou para se prevenir de novas crises que venham a se desenvolver em seu “pátio traseiro” em função da crise econômica mundial ou dos fenômenos de polarização social que vêm atravessando a América Latina e o Caribe nos últimos anos. Esta análise da perspectiva estratégica para a política dos EUA está ligada ao apoio velado, mas fundamental, que o país ianque teve na consolidação do golpe em Honduras; e na instalação das bases norte-americanas na Colômbia. Tudo isso pode ser encarado como uma política preparatória para momentos mais álgidos da luta de classes que podem se abrir na região num futuro não distante na região; o que por outro lado, também poderia abrir novas contradições para os EUA na medida em que ainda não resolveu os problemas no Oriente Médio. Ainda que o esperemos a evolução dos acontecimentos para definir mais precisamente os objetivos estratégicos do brutal reforço militar dos EUA sobre o Haiti, o que já está claro é que Obama se utiliza de sua legitimidade internacional para aumentar a presença ianque na região.
[1] Ver denúncia ao AND feita por Sandra Maria Quintela Lopes (economista, formada na Universidade Federal de Alagoas e pós-graduada na Universidade de Bremen, na Alemanha, além de mestre pela Coppe - UFRJ).
A solidariedade operária e popular ao povo haitiano exige lutar contra a ocupação militar dos EUA, do Brasil e da ONU
Os interesses do governo Lula e da burguesia brasileira no Haiti
Desde que o Brasil assumiu a liderança das tropas da Minuistah, muito já se disse sobre o objetivo do governo Lula de, cumprindo este papel, aumentar seu “cacife” para conquistar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Para Lula, em ano de eleições nacionais, cobra enorme valor entrar para a história visto como um presidente que elevou a participação internacional do Brasil em relação aos governos anteriores, não só para sedimentar posição uma posição mais altiva do Brasil frente ao imperialismo, mas também para ser capitalizado internamente. Haja visto que a própria Rede Globo, historicamente opositora do petismo, está fazendo uma campanha contra a “intromissão” do imperialismo no “terreno” da Minustah. Entretanto, pouco se sabe sobre os interesses econômicos ligados a esta empreitada. No site do Itamaray encontramos um link para o “Programa de Promoção das Exportações para o Sistema das Nações Unidas” (PPE-ONU/MRE). Esta é uma iniciativa que visa divulgar as demandas de importação de produtos brasileiros existentes no âmbito da ONU e orientar as empresas nacionais para participarem do chamado “mercado da ONU”. Em 2005, este sistema, composto por 30 fundos, movimentou US$ 8,3 bilhões em bens e serviços. Volume que passou para US$ 9,4 bilhões em 2006. Durante a liderança brasileira à frente da Minustah, a construtora brasileira OAS passou a construir uma rodovia no Haiti licitada em US$ 145 milhões. Além disso a Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), empresa do vice-presidente brasileiro, José de Alencar, estava em vias de abrir lucrativo negócio no Haiti, buscando valer-se do baixíssimo preço da mão-de-obra têxtil neste país e aproveitar do Tratado de Livre Comércio (TLC) com tarifa zero entre Caribe e EUA para fugir da taxa média de 17% imposta às exportações têxteis brasileiras, construindo assim uma mais lucrativa plataforma de exportação para os EUA. Em 2007 a Coteminas já havia aprovado a instalação de um moinho têxtil na República Dominicana, com capacidade de produção estimada em 40 milhões de metros quadrados de jeans, para corte e confecção no Haiti, e vinha estudando a instalação de outras fábricas na América Central e Caribe. Aqui, o papel de liderança do Brasil na Minustah é utilizado também como moeda de troca para que os Estados Unidos aceitem sem represálias que as empresas brasileiras instaladas no Haiti usem osTLCs para exportarem aos EUA, como já é feito em diversos negócios com bio-combustíveis na América Central desde acordo firmado entre Lula e Bush. Josué Gomes da Silva, atual presidente da Coteminas e filho de José Alencar, deu a seguinte declaração para o jornal Valor Econômico: "O Brasil é um reconhecido colaborador do processo de resgatar o Haiti. O país tem o direito de pleitear um tratamento preferencial". Agora, após a catástrofe, naturalmente o as classes dominantes brasileiras não vão querer ficar de fora do chamado “esforço de reconstrução”. Muito pelo contrário, dada a projeção internacional de monopólios brasileiros especialistas em construção civil e de infra-estrutura como a Odebrecht e a Camargo Correia, cujos donos são fortes aliados de Lula, é de se esperar que o Brasil busque o máximo possível na repartição deste botim. Nas palavras do ministro da defesa, Nelson Jobim: "É o momento de começarmos a pensar em mudar a natureza da missão da Minustah (...) O mandato da Minustah é de manutenção de paz, leia-se segurança, mas é preciso que a ONU perceba que sua missão não é mais só fornecer segurança, mas também a de construção da infra-estrutura". É neste marco que devemos analisar os conflitos que vêm se desenvolvendo entre Brasil e Estados Unidos em torno ao Haiti. Assim como na compra de armas da França, são expressões da política brasileira de buscar apoiar-se no declínio da hegemonia norte-americana e das contradições de interesse entre os distintos países imperialistas para aumentar sua margem de manobra, buscando consolidar-se como líder regional, ao mesmo tempo em que aprofunda sua dependência em relação ao capital financeiro internacional, o que tem garantido os limites de submissão a cada negociação. Num sentido mais “estratégico interno” já não são poucos aqueles que reconhecem na participação das tropas brasileiras no Haiti um “projeto” de treinar “batalhões especiais” para ocupar as favelas brasileiras (dada a semelhança com suas análogas haitianas) e reprimir explosões de revolta popular. Este “projeto” já teve suas primeiras conseqüências práticas na participação de ex-soldados da Minustah na repressão e na ocupação do Complexo do Alemão em fevereiro de 2008 e no morro da Providência em junho do mesmo ano. Ao contrário da demagogia de apresentar a Minustah e o governo Lula como “humanitários” e “salvadores”, haveria que se perguntar que, se o seu objetivo é ajudar o Haiti, por que não enviar médicos e engenheiros ao invés de soldados? Depois de cinco anos de ocupação da Minustah, dever-se-ia perguntar quê papel de “estabilização” é este cumprido pelas tropas brasileiras, no qual, durante todo este tempo, com investimentos de mais de 600 milhões de dólares anuais, nada mudou nas terríveis condições de saúde e de saneamento básico do povo haitiano, o que contribuiu para agravar enormemente a catástrofe. O papel das direções lulistas nas organizações operárias e populares. O governo Lula está tratando utilizar a catástrofe ocorrida no Haiti para tentar cobrir com uma mascara mais “humana” o verdadeiro papel de sua liderança à frente da Minustah. É o que temos visto no esforço de idealização dos soldados brasileiros mortos no terremoto, cujo governo, nas palavras de Lula, tenta converter em verdadeiros “heróis nacionais a serviço da paz e da solidariedade entre os povos”. Na reunião realizada dia 18/01 para tentar conformar uma “frente” das organizações operárias e populares em solidariedade ao Haiti, as direções lulistas da CUT, do MST, da igreja etc. mostraram que como sua política é servir de “ala esquerda” da política do governo federal, negando-se ligar a campanha de solidariedade a uma campanha de denúncia do imperialismo e do papel de Lula na ocupação deste país e a lutar pelo retorno das tropas brasileiras aí instaladas e negando-se a convocar um mínimo plano de mobilização popular. Se negaram a, minimamente, convocar um ato público de imediato, contentando-se em propor um ato para 22-23 de março. E em sua primeira declaração se contentam em defender a “retirada das tropas da ONU” em geral, como se a liderança do governo Lula nas mesmas fosse uma mera abstração. Recentemente foi divulgada pela internet uma declaração "Aos governos e organizações reunidos em Montreal", assinada por organizações operárias e populares brasileiras (Jubileu Sul, Comitê Pró-Haiti, Conlutas etc.), na qual se alimenta a ilusão pró-imperialista de "ajuda humanitária desinteressada". Na declaração, dizem: "É momento dos governos que compõem a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH), as Nações Unidas e especialmente Estados Unidos, França e Canadá que revejam grande parte das equivocadas políticas implementadas no Haiti". Ao invés de denunciar a história de opressão imperialista contra o povo haitiano e os interesses de classe que se escondem por trás de sua “ajuda humanitária”, criticam pretensos "equívocos", que supostamente seriam passíveis de ser "revistos". Mesmo defendendo a anulação da dívida e falando contra a "militarização" no Haiti, sequer chamam o “Fora as tropas imperialistas e da Minustah”. A recente Conferência realizada no Canadá mostrou como é impossível lutar por um Haiti “livre e soberano” sem lutar claramente pela retirada das tropas deste país. No documento que resultou de dita reunião os países ocupantes hipocritamente declaram: “Os haitianos são donos de seu futuro (...) Nós respeitamos a soberania haitiana”. Um chamado aos setores combativos e anti-governistas Frente à política das organizações operárias e populares atreladas por mil e um laços ao governo Lula, as organizações que se reivindicam anti-governistas e combativas têm um papel especial a cumprir. A Conlutas e a Anel precisam se colocar à cabeça de uma ampla e contundente campanha de mobilização, ligando indissoluvelmente a arrecadação de ajuda humanitária à denúncia do papel do imperialismo e do Brasil na ocupação do Haiti, exigindo a retirada imediata das tropas estadunidenses e da Minustah, exigindo o retorno imediato dos soldados brasileiros. Devemos colocar de pé uma campanha que agite um programa classista para responder ao sofrimento do povo haitiano. Fora já as tropas da Minustah! Fora ianques do Haiti e de toda América Latina! Que os lucros dos capitalistas sejam utilizados para enfrentar a catástrofe! Que as organizações operárias e populares controlem os recursos recebidos! Pelo cancelamento da dívida externa do Haiti! Esta campanha precisa ser levada tanto em nível nacional e internacional como em cada estrutura ou local de trabalho, estudo e moradia em que estão presentes os sindicatos, entidades estudantis e organizações populares que compõem a Conlutas e a Anel. Devemos impulsionar atos nas principais cidades do país, realizar paralisações em solidariedade, transformar as calouradas de recepção dos alunos na volta às aulas em um grande palco para esta campanha. A Conlutas e a Anel precisam fazer um chamado especial à Intersindical e à ala esquerda da UNE para integrar e fortalecer esta campanha. Para ser conseqüentes em colocar de pé uma campanha classista de solidariedade ao povo haitiano, a Conlutas precisa rever sua posição legitimar a política das direções governistas do movimento operário e popular, como o fez ao assinar em baixo da declaração dirigida à Conferência realizada no Canadá, que nem mesmo coloca a exigência da retirada das tropas de ocupação do Haiti. A Conlutas e a Anel precisam denunciar o serviço prestado pelas direções governistas a Lula ao cobrirem pela esquerda a política de mascarar a papel de liderança do Brasil na ocupação militar com um “rosto” humano; ao mesmo tempo em que precisam exigir que coloquem o peso que têm nas organizações operárias e populares a serviço de organizar ações concretas e urgentes de mobilização. A prova de que é possível colocar de pé uma ampla campanha classista de solidariedade ao povo haitiano é o fato de que uma organização pequena como a LER-QI, com a pouca força de mobilização que temos, após termos sido derrotados na luta política que demos na reunião das organizações operárias e populares realizada no dia 18/01, realizamos um ato com mais de 100 pessoas na Avenida Paulista no dia 21/ 01, que teve significativa repercussão e contou com importante simpatia da população que assistiu ao ato. Neste sentido, continuamos colocando nossas forças a serviço de que se levante uma forte campanha independente em defesa do povo explorado e oprimido do Haiti.
Entretanto, relatos de meios de comunicação independentes e organizações sem fins lucrativos que estão no Haiti desmentem que exista um problema com "segurança" no país. A jornalista independente Amy Goodman, apresentadora do programa DemocracyNow!, dos Estados Unidos, está no Haiti desde o começo desta semana. "Eles estão recebendo quase nenhuma ajuda. Passamos de uma família para outra, e eles disseram, continuamente, que suas vidas estão nas mãos de Deus. A própria ONU fez a declaração sobre a segurança. E nós queríamos saber a que eles estavam se referindo. Andamos livremente de um lugar para outro. As pessoas estão desesperadas, mas certamente pacíficas."
Ela também relata que a ajuda está centralizada no aeroporto em Porto Príncipe e que não está indo para o resto do país: "E o que fizemos ontem foi o que apenas alguns jornalistas fizeram: saímos de Porto Príncipe e fomos ao longo da costa para Carrefour e Léogâne. Este é o epicentro. Lá é onde a ONU emitiu sua declaração, dizendo que eles reconhecem que 90% dos edifícios caíram, que milhares de pessoas foram mortas. Mas, segundo eles, a menos que pudessem garantir a segurança, eles não iriam fornecer ajuda lá. Isso é tremendamente assustador."
O doutor Evan Lyon, que vem trabalhando no Hospital Geral (o maior hospital do Haiti) disse em entrevista para o DemocracyNow!: "Eu estou vivendo num bairro com o meu amigo. Estou ficando com alguns colegas médicos haitianos. Nós estamos circulando pelas ruas entre uma e duas da manhã, movendo pacientes, movendo suprimentos, tentando fazer o nosso trabalho. Não há segurança. A ONU não está nas ruas. Os EUA também não estão nas ruas. A policia haitiana não estão conseguindo ficar nas ruas. Mas também não há insegurança. Eu não sei se vocês estavam do lado de fora ontem a noite, mas você consegue ouvir até um pingo d'água nessa cidade. Esta cidade é um lugar pacífico. Não há uma guerra. Não há uma crise, a não ser o sofrimento que está ocorrendo."
Além disso, Amy Goodman fala sobre a extrema organização da população nos acampamentos de refugiados montados por todo o país, cada um com cerca de mil pessoas: "... eu penso que nós estamos falando de anarquia do governo, a incrível força comunal da comunidade. Estes campos de refugiados, esses campos menores e maiores que o número chega na casa dos milhares, são comunidades organizadas. À noite, eles colocam pedras na rua. Se você não conhecesse essas comunidades, você diria: 'O que está acontecendo aqui? Certo? São estes, você sabe, os anarquistas? Eles são violentos? Eles estão ameaçando?' Eles estão protegendo suas comunidades e aqueles que estão dentro. E eles não querem que as pessoas de fora entrem, especialmente à noite. É extremamente organizado a nível local, entre bairros, as pessoas ajudando-se mutuamente."
O jornalista Kim Ives, que está viajando junto com o DemocracyNow! responde a pergunta de Amy Goodman sobre a organização das comunidades: "Oh, e as organizações comunitárias, nós vimos na outra noite em Mateus 25 (bairro onde há um alojamento com cerca de 600 pessoas desabrigadas), a comunidade onde nós estamos ficando. Um descarregamento... um caminhão cheio de comida veio no meio da noite sem avisar. Poderia ter ocorrido uma briga. A organização da população local foi contactada. Eles mobilizaram imediatamente os seus membros. Eles vieram. Organizaram um cordão. Enfileiraram cerca de 600 pessoas que estão ficando no campo de futebol atrás da casa, que também é um hospital, e eles distribuíram a comida de forma ordenada, em porções iguais. Eles eram totalmente auto-suficientes. Eles não precisam dos "Marines". Eles não precisam da ONU. Eles não precisavam de nenhuma dessas coisas que estão nos falando que eles precisam, ditas também pela Hillary Clinton e o ministro do exterior. Essas são coisas que as pessoas podem fazer por elas mesmas e estão fazendo por elas mesmas."
Na manhã da quarta-feira, 20 de Janeiro, houve outro tremor, e ainda não se sabe que prédios foram atingidos pelo tremor e quais foram as vítimas. Mas é lógico que isso traz pânico à população que teme por suas vidas. Ninguém sabe se haverão outros tremores. Por enquanto os grupos de ajuda continuam chegando e os que já estão no país estão trabalhando dia e noite construindo hospitais, atendendo as pessoas e distribuindo água e comida. Mesmo assim muita gente está morrendo por falta de cirurgia, o grupo de ajuda médica Partners in Health disse que cerca de 20.000 pessoas estão morrendo por dia que poderiam ser salvas com cirurgia.
História:
O verdadeiro terremoto do Haiti foi a sua própria história, agora, evidenciada mundialmente pelo sinistro geológico. Porto Príncipe, a capital do Haiti situa-se no departamento de Quest, um dos dez do país, que tem cerca de nove milhões de habitantes e faz fronteira, na ilha Hispaniola, com a República Dominicana.
Cedido pela Espanha à França em 1697, quando se chamava Saint-Domingue, suas terras – há muito inférteis – tornaram-no uma das mais ricas colônias das Américas. Produzia um dos melhores acúcares do mundo, batendo, no século XVIII, o Brasil em exportações nesse campo.
Hoje, sua renda per capita é bastante menor do que a do bairro de Higienópolis, em São Paulo: em média, um haitiano vive com dois reais ao dia. Como lembra Juan Jesús Aznárez o Haiti é exemplo vivo da Lei do engenheiro aeroespacial americano (Edward) Murphy: qualquer situação, por pior que seja, está sujeita a agravamentos.
O que transformou o Haiti no país mais pobre das Américas? O processo ininterrupto de “colonização” (usurpação), que não se findou, paradoxalmente, com sua independência, inovadora e sui generis, em 1804, a segunda do continente (a primeira foi a dos Estados Unidos, em 1776) e a primeira liderada exclusivamente por negros, que conquistaram sua liberdade, em 1794 – ao contrário dos negros brasileiros, que foram “alforriados” quase cem anos depois.
O Haiti, disputado pela Espanha e França, antes de sua independência, não teve ao menos os benefícios secundários de uma colonização como a brasileira. Na verdade, sua independência política consistiu num abandono de território. As plantações de cana de açúcar francesas, que fizeram a riqueza de Paris, haviam esgotado o solo, quando Napoleão entregou a ilha à sua própria sorte.
A República negra sofreu boicotes desde seu início e tornou-se um “encrave negro”. O sismo do dia 12 de janeiro, 35 vezes mais forte do que a bomba atômica lançada sobre Hioshima no final da Segunda Guerra, deu-se, na verdade, quando Colombo chegou na ilha em 1492.
À deriva desde sua independência
As terras haitianas já eram parcialmente inférteis no começo do século 19. A jovem Revolução Industrial, àquela altura, substituía, passo a passo, o trabalho humano pela máquina, a agricultura e o artesanato pelo manufatura. Sem terras férteis, sem possibilidade para cultivar suas possíveis matérias primas, a república negra seguiu à deriva, de crise política em crise política.
O jovem capitalismo industrial, baseado igualmente na exploração dos escravos, radicalizou as relações de produções, adicionando a elas, então, o racismo e os conflitos raciais, um instrumento econômico, que perpetuou os negros como seres inferiores – mesmo depois de suas alforrias.
Os conflitos raciais entre brancos e mulatos e os negros (a maioria do país) inviabilizaram o Haiti. O país fechou-se em si mesmo, cumprindo sua vocação de ilha. Fechou-se nos conflitos raciais legados pelos colonizadores franceses e espanhóis, fechou-se no passado, em sua impotância, em sua psique tribal reprimida.
Sua localização geográfica não o ajuda: situa-se entre a Venezuela e os Estados Unidos, ao lado de Cuba. É um lugar de passagem. E, com a doutrina Monroe (de James Monroe, lançada em 1823, “A América é dos americanos”), tornou-se “propriedade” implícita dos Estados Unidos.
Uma viagem de avião de Porto Princípe a Miami não chega a três horas. Da segunda metade do século 19 ao começo do século 20, vinte governantes alternaram-se no poder e, dentre eles, 16 foram depostos e/ou assassinados.
No século 20, o Haiti experimentou uma sequência ainda mais alucinada de crises políticas, a confirmar que o colonizador não lhe deixou – como herança – os princípios iluministas da Revolução Francesa e tampouco um Estado de Direito, com Executivo, Judiciário e Legislativo, mesmo que incipientes, legando-o apenas a deterioção do passado tribal africano, que talvez lhe desse alguma unidade.
Em 1902, houve um guerra civil. De 1902 a 1908, a ditadura de Nord Alexis. De 1915 a 1934 foi ocupado pelos Estados Unidos (a mando inicial de seu presidente Woodrow Wilson), sob o pretexto de que seu governo não havia pago uma dívida contraída junto ao City Bank e ainda que as corporações estadunidenses, lá instaladas, estavam sob risco, impondo-se a pacificação das cidades e, sobretudo, para revogar o artigo da Constituição que proibía a venda de cana de açúcar aos estrangeiros. A riqueza do Haiti (o acúçar) foi o germe de sua destruição, à mingua de uma sociedade civil minimamente organizada.
Os civis ocupam o poder de 1934 a 1957, como sempre, de crise em crise. Em 1957, François Duvalier – o Papa Doc – elegeu-se presidente e, com o apoio dos americanos, sob o signo da Guerra Fria e da Revolução cubana de 1958, declarou-se presidente vitalício em 1964.
Papa Doc implantou uma ditadura feroz, baseada no terror dos “tontons macoutes” (bichos-papões) e – ressignificando a origem africana – no vodu. Sua principal obra foi exterminar o pouco de sociedade civil que ainda havia no país e também a Igreja Católica que, àquela altura, ensaiva os primeiros passos da teologia da libertação na América Latina.
Papa Doc, um Napoleão de hospício e presídio, desflorestou o país na fronteira com a República Dominicana para ter os inimigos sob sua mira. Haitianos e dominicanos se odeiam, na ilha ou em Miami ou Nova Iorque, para onde inúmeros imigraram. O terremoto é fruto também de política predatória – crônica – em relação ao meio ambiente. O país perdeu 98% de suas florestas. Nada se pode cobrar, entretanto: o país nunca existiu de fato.
François Duvalier foi sucedido pelo seu filho Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, em 1971. Baby Doc permaneceu no poder até 1986, três anos antes da Queda do Muro de Berlim. A França lhe deu asilo político.
A ditadura dos Doc fez o país regredir 200 anos, deixando-o em estado colonial, agora, em plena terceira Revolução Industrial, e sem o acúçar, seu ouro branco. Leslie Manigat governou o Haiti de fevereiro a junho de 1988, depois de ele ser controlado pelo general Henri Namphy, de veia doquiana, por ano e meio como sucessor de Jean-Claude.
Seguiram-se golpes de Estado, liderados pelos doquistas até que o padre, de esquerda, Jean-Bertrand Aristide elegeu-se em 1990, renovando o sonho de 1804, o sonho da República negra dos ex-escravos Toussaint Louverture e Jacques Dessalines – país da independência.
As forças doquianas ou as forças que Doc encarnou – autoritárias – permaneciam vivas e Aristide foi deposto, em 1991, pelo general Raul Cedras – a ONU e a OEA, como sempre, impuseram “sanções econômicas” ao país. No fundo, os Estados Unidos e a Europa foram, ao longo do século 20, esvaziando qualquer possibilidade de nação para o Haiti e as sanções econômicas são prova disso.
A imigração tornou-se uma rotina, acentuada pela crise de Aritide/Cedras. O Conselho de Segurança da ONU decretou, em 1994, bloqueio total ao país. Uma Junta Militar empossou Émile Jonassaint, o que bastou para os americanos intesificarem as sanções. Em 1994, Aristide foi reempossado por uma força militar norte-americana. Em 2004, foi deposto.
Para controlar a situação tensa, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou o envio de uma força de mantenedores de paz, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah). Liderada pelo Brasil, a força tem atualmente 7 mil homens, entre eles 1.266 brasileiros. Além desses neo-piratas abrigados em ONGs.
Sob o governo do Minustah, deu-se o terremoto físico, há tanto experimentado continuamente na vida social. Como observa Aznárez, com pertinência, a história do Haiti é excessiva, desde o chicote colonial francês até os dias de hoje.
Esse país, entretanto, legou à humanidade um pintor do nível de Hector Hyppolite (1894-1948), descoberto pelo poeta francês André Breton (1896-1966), líder do movimento surrealista, que morou na ilha em 1944, e poetas de primeira plana como Rene Depestre (n. 1926).
Depestre afirma, com pertinência, que os processos coloniais estão mais do que vivos. Ele acrescenta que houve uma espécie de descolonização “institucional” e uma das relações internacionais, em nível protocolar, sem descolonização das mentes e corações.
O Haiti é o produto mais cruel desses processos coloniais europeus (e americanos), sob a etiqueta “globalização”: ela não incluiu, como aduz Depestre, a totalidade dos valores das diversas civilizações e culturas, mas, ao contrário, impôs um padrão único, causando o yhadismo, o terorismo, a pobreza etc.
O Haiti é a vítima da hora. Ele, apesar da comoção mundial que provoca, será ainda palco de disputa geopolítica áspera, onde o que menos importa é sua população, confirmando a Lei de Murphy.
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