Profeta

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Saiba mais sobre o desmatamento e entenda quem viola a floresta

De olho na Amazônia
Por Lilian Burgardt

Até a criação do SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento) pelo Imazon basicamente dois sistemas faziam as vezes de "observadores da Amazônia": o Prodes e o Deter, ambos programas coordenados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Cada um dos sistemas tem por objetivo duas funções distintas. O Prodes visa produzir um relatório mais abrangente sobre o desmatamento na Amazônia, apresentando dados para cálculos e estatísticas do panorama de destruição da região. Já o Deter, idealizado para ser mais ágil, tem como missão fornecer dados precisos e em curto prazo para que o Ibama - órgão federal responsável pela fiscalização da destruição da floresta - consiga coibir a ação dos vilões do verde.
Ambos os sistemas são considerados por especialistas como tecnologia de ponta e conferem ao Brasil o "status" de ser o país mais bem preparado para fiscalizar o seu grande patrimônio verde. O trabalho com o Prodes começou a ser realizado em 1988, quando se sentiu a necessidade de desenvolver um sistema capaz de mostrar o tamanho do problema na Amazônia. Até 2003, segundo o coordenador de monitoramento ambiental da Amazônia no Inpe, Dalton Valeriano, não havia uma política de interesse em saber o quanto e onde era desmatado para estabelecer um programa de coação às práticas ilegais. "Apenas em 2003 este interesse começou a aparecer. Então, a pedidos do MMA (Ministério do Meio Ambiente) desenvolvemos um protótipo de sistema de monitoramento mais ágil, afim de facilitar a ação de fiscalização do Ibama", revela. No ano seguinte, nascia o Deter.
Diante deste histórico é inevitável se questionar: desde quando o Brasil vem abrindo seus olhos para o que acontece na Amazônia? Especialistas dizem que a preocupação é recente, muito mais do que o histórico da depredação da região. Para se ter uma idéia, a Amazônia Legal tem uma extensão de aproximadamente 5 milhões de km2, constituindo 59% do território brasileiro. Cerca de 80% da região apresenta cobertura florestal. Atualmente, a área total desmatada chega a 652.908 km2, o que corresponde a 16,3% da floresta amazônica brasileira. "Só nos últimos 30 anos, fomos responsáveis pelo desmatamento de 10% da Amazônia", lamenta o campaigner do Greenpeace, Marcelo Marquezine. A passos largos, em sua opinião, é provável que o Brasil chegue ao índice de 40% previsto em um estudo do professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Britaldo Soares Filho.

Mas quem são, afinal, os grandes vilões da Amazônia?

Quando assistimos aos telejornais e vemos as grandes madeireiras extraindo madeira ilegal da região, ficamos com a impressão que apenas elas são as assassinas do nosso verde. A verdade porém, não é bem essa. Estudiosos atribuem aos agropecuários a devastação das maiores porções de terra da região. Tanto é que, em 2003, o estado do Mato Grosso, líder na produção de soja, foi o que apresentou o maior índice de desmatamento. O Mato Grosso desmatou 38 mil quilômetros quadrados, o equivalente a 3,5 Jamaicas. "Basta lembrar que o governador do estado foi manchete da imprensa internacional como o estuprador da Amazônia ", lembra Marquezine.
O coordenador do centro de desenvolvimento sustentável da UnB (Universidade de Brasília), Marcel Bursztyn, lamenta que a expansão da soja - tão benéfica para o País do ponto de vista econômico - ainda seja o grande inimigo da nossa floresta. "Sou totalmente a favor da produção da soja, acho mesmo que o Brasil tem que crescer, mas isso teria de ser feito de forma equacionada. É lamentável que ainda não tenhamos políticas públicas fortes neste sentido", afirma. E o ritmo econômico ditado pela soja é quem ainda dá as cartas na Amazônia. Se o preço da soja no mercado internacional aumenta, como aconteceu em 2003, cresce a devastação. Agora, quando ele está em queda, também cai o índice de desmatamento, como foi visto no último índice apontado pelo Prodes. "Fico pensando: até quando a valorização ou não da soja fora do Brasil será a única responsável pelo equilíbrio e a preservação da nossa floresta?", indaga Bursztyn.
É claro que a repercussão negativa para o estado do Mato Grosso foi responsável por algumas mudanças significativas a respeito do cuidado com a região Amazônica. A mais importante delas foi uma considerável injeção de recursos no orçamento do Meio Ambiente que saltou de R$ 5 milhões para R$ 18 milhões. "Se há vontade política, as coisas acontecem", reforça Marquezine. Fora isso, segundo o campaigner, o estado também investiu na contratação de engenheiros, fiscais, juízes e promotores a fim de mudar a realidade local. "Agora, é preciso que outros estados também assumam o compromisso e passem a se responsabilizar pelo que acontece dentro de seus territórios", afirma.

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